Meu caro (a) leitor não
costumo escrever aqui em primeira pessoa, porém creio que como fiz esse post
para relatar o SOS, imagino que não teria maneira melhor de descrever o
programa como contando minha experiência pessoal, então este seria acima de
tudo um relato particular sobre o evento. Que sem dúvida mudou radicalmente
tudo o que pensava sobre arquitetura e sobre como pensar um projeto, como
estudante de arquitetura, sinto-me honrado de ter participado dessa experiência
incrível. Depois do SOS minha visão de mundo foi expandida, minha visão da
arquitetura mudou minhas expectativas agora são outras e meus sonhos agora são
outros. De certo modo, sinto-me renovado para enfrentar uma grande jornada.
O
que é o SOS?
O SOS Ciudades é um
programa internacional realizado pela Taller Sudamérica e pela Faculdade de
Arquitetura, Desenho e Urbanismo da Universidade de Buenos Aires (Fadu-Uba), em
parceria com outras instituições de ensino superior da América do Sul. O
programa promove um intercâmbio de uma semana entre acadêmicos e docentes destas
universidades envolvidas para formulação de projetos de intervenção urbana em
alguma cidade de uma região, ambos previamente estudados e analisados, e se
possível com a participação de um curso local de arquitetura.
Nos últimos três anos o
SOS Cidades dedicou-se a realizar projetos e análises em cidades da bacia
amazônica, começando com Iquitos - Peru em 2011, Manaus - Amazonas em 2012
e Macapá - Amapá em 2013, integrando assim a nascente o meio e a foz do Rio
Amazonas e da Bacia Amazônica.
Projetos
A metodologia do
programa consiste na formação de grupos de trabalho heterogêneos para que haja
a máxima troca de conhecimento possível entre os membros, sendo assim em todos
os grupos houve acadêmicos estrangeiros e brasileiros, coordenados por um
docente estrangeiro e um co-coordenador brasileiro (Embora quase nenhum dos
nossos professores tenha participado). Antes de se iniciar os projetos
propriamente ditos houve visitas a algumas áreas problemáticas da cidade, que
poderiam ser área de grande interesse para propor um projeto de intervenção
urbana.
Áreas
visitadas: Canal das Pedrinhas,
Igarapé da Fortaleza e Vila Amazonas
Canal das Pedrinhas |
Canal das Pedrinhas |
Vila Amazonas |
Trabalho
dos grupos
Os trabalhos dos grupos
ocorreram simultaneamente dentro da Fortaleza de São José, onde os acadêmicos
foram divididos em nove grupos de trabalho, sendo que cada professor aplicou
sua metodologia e a sua forma de ensinar. Particularmente gostei muito da
metodologia aplicada pelo professor coordenador do meu grupo o Prof. Facundo Sniechowski,
que consiste primeiramente no olhar coletivo que todos tem ou tiveram sobre a
cidade, depois a leitura das cinco escalas (Escala mundo, Escala América do
Sul, Escala Amazônia pulmão do mundo, Escala Amapá o estado mais preservado do
Brasil e a Escala Macapá a cidade das bacabas e basicamente mantida pelo
funcionalismo público), bem como a análise de conceitos como (moradia,
produção, identidade cultural e paisagem) e por fim a essência da área de
intervenção ou seja, da cidade de Macapá que concluímos que a característica mais
marcante da cidade que a diferencia de todas as outras são as áreas de ressacas,
abaixo fiz um resumo básico dos projetos apresentados por cada grupo no final
do SOS Cidades 2013.
Grupo
1 (Prof. Roberto Szraiber)
Dez estratégias para a
transformação do Território
As
dez estratégias propostas pelo grupo foram: 01. Consolidação dos portos já existentes,
02. Conexão navegável entre o Igarapé da Fortaleza e o Rio Amazonas, 03. Criação
de uma rota de conexão do Amapá com Caribe e Oceano Pacifico, 04. Consolidação
do Centro da cidade (Chamada de Cidade Baixa) com verticalização média e baixa,
05. Criação de um novo centro para cidade na região do Marabaixo (Chamado de
Cidade alta), onde seria permitida alta verticalização, 06. Criação de uma nova
orla interior nas áreas de ressaca paralelo, 07. construção de bairros ecológicos
nas bordas das ressacas, 08. Criação de um novo centro de pesquisa e proteção
ambiental, 09. Construção de portos interiores nas áreas de ressacas, e 10. Criação
de uma rede de transportes com veículos anfíbios.
Grupo
2 (Prof. Michatek)
Janela Amazônica
O
grupo abordou a cidade em três eixos principais, o Eixo Norte demarcado pelo
Canal do Jandiá, Eixo Central demarcado pelo trajeto da Avenida Padre Júlio e a
Rodovia Duca Serra, que juntas formam um eixo viário arterial importantíssimo de
Macapá e por fim o eixo sul demarcado pela Avenida Equatorial. Entre as
principais propostas do grupo foram no Eixo Norte (Canal do Jandiá), além de uma
revitalização seria a construção de um terminal fluvial enquanto no Eixo
Central seria a transformação do atual trapiche em um balneário público no Rio
Amazonas, tendo em conta o calor abrasador da cidade e a pouca disponibilidade
desse tipo de equipamento urbano.
Grupo
3 (Prof. Gustavo)
Floresta Urbana
Dentre
as principais preocupações do grupo foram em relação ao saneamento básico nas
áreas de ressacas, propondo o grupo uma tipologia de habitação popular para
áreas de ressacas em paralelo com a infraestrutura de saneamento. Um dos locais
de intervenção do grupo foi no Igarapé das Mulheres onde o grupo propõe uma
conexão entre as orlas do Perpétuo Socorro e a Beira Rio e também uma praça chamada de "Praça úmida" já que aquela área tem uma grande ligação com o rio, e nesta praça haveria um mirante
para o Rio Amazonas com restaurante e local de contemplação da paisagem.
Grupo
4 (Profª. Lucia Stafforini)
O
grupo se preocupou com o crescimento populacional de Macapá e Santana, bem como
isso iria naturalmente refletir na atividade portuária, tendo em vista que as
duas cidades têm grande ligação com os rios, já que o Amapá é o único estado do
Brasil que não possui ligação rodoviária com o restante do país. A proposta do
grupo se dá na área ao longo da Rodovia JK, e consiste na consolidação de
portos para todos os tipos de embarcação e da criação de uma rota econômica e turística
entre Macapá e Santana, assim como uma rede de vias conectando as áreas de
ressacas ao Rio Amazonas.
Grupo
5 (Prof. Claudio)
O
grupo propõe uma intervenção no centro de Macapá através uma reconfiguração
urbana, dentre as principais propostas seria a construção de um grande porto de
produtos regionais, visando devolver a aquela região seu caráter original de contato
com o rio e os produtos da floresta, propõe também um corredor cultural na
atual Rua Cândido Mendes, concomitantemente a reconfiguração completa do centro
de Macapá, para isso o grupo projetou uma tipologia de edificações modernas
tanto para fins comerciais como culturais e habitacionais. E por fim a
transformação da Avenida Mendonça Junior em uma via expressa que levaria até a
atual área do exército que seria transformada em um centro de alta tecnologia.
Grupo
6 (Prof. Facundo Sniechowski)
A maior ressaca do
mundo
Através
da análise de escalas, essências e conceitos, o grupo através de uma visão holística
e sistêmica propõe 01. Um anel hidroviário ligando o Igarapé da Fortaleza,
Lagoa dos índios, Canal do Jandiá ao Rio Amazonas, canal este que poderá ser
usado tanto para fins turísticos como para o transporte público, 02. Um
zoneamento nas bordas das áreas de ressacas para o uso sustentável voltado para
as mais diversas produções agrícolas (Açaí, Banana, Pupunha, Coco, Mandioca,
hortaliças etc.) e também para o uso turístico sustentável, 03. E propõe também
uma tipolo gia de habitações para as áreas de ressacas que estaria
concomitantemente associada a atividade comercial (Morar e trabalhar no mesmo
local).
Grupo
7 (Prof. Cristian)
O.C.A. Ocupação Comunal
Amazônica
O
grupo parte da análise que Macapá não tem apenas uma orla (Rio Amazonas) e sim
duas, pois as áreas de ressacas que são grandes reservadas de água também forma
outra orla, uma orla interior. Então partindo desta análise o grupo propõe uma
ocupação sustentável desta orla interior, e propõe integrar a população da
cidade com a paisagem natural das ressacas, para isso o grupo também propõe uma
nova tipologia de habitação e de passarelas nas
áreas de ressacas (Com cobertura, iluminação, canalização para saneamento, eletricidade, telefone, internet etc.) agregando diversos serviços públicos para essas áreas, como uma medida de tirar
essas populações da situação de marginalização que se encontram atualmente.
Grupo
8 (Prof. Fernando Servidio)
Um modelo de cidade
amazônica
O
grupo propõe um novo conceito de cidade amazônica, tendo em vista que
atualmente, nossas cidades crescem de costas para a floresta e para sua relação
história com os rios, sendo assim o grupo propõe várias tipologias de habitações
e edificações das mais variadas funções. O grupo também propõe algumas conexões
entre Macapá e Santana, e prevendo o crescimento da mancha urbana e da população
de Macapá até 2020, e tem como proposta a ocupação sustentável das bordas das
áreas de ressacas.
Grupo
9 (Prof. Andres Gomez)
O
grupo partiu da análise sistemática de ver a Região Metropolitana e não somente
Macapá ou Santana isoladamente, com isso o grupo propõe um complexo integrado de
equipamentos urbanos prevendo o surgimento e crescimento da metrópole amapaense
que até 2030 deverá ver mais de 1 milhão de habitantes, o complexo parte do
eixo ao longo da Rodovia Duca Serra e integra aeroporto, Porto de Santana,
Rodovias e Ferrovia. Que se configuraria em um Porto Turístico-Comercial no
Centro de Macapá, Um pólo cientifico na região da Lagoa dos índios, Um terminal
multimodal ligando Rodovia e Ferrovia no Marabaixo, Um terminal comercial
(Porto Seco) no atual Distrito Industrial e se conectando ao Porto de Santana
(Porto Global) que conecta o Amapá ao Brasil e ao mundo.
A integração
O intercambio não se
limitou somente a troca de conhecimento sobre arquitetura e urbanismo, mas
também se expandiu para uma verdadeira troca de culturas e de experiências de
vida, de acadêmicos de duas realidades tão diferentes e distantes mas ao mesmo
tempo tão próxima quando se trata de pensar o futuro das cidades, sobretudo na
nossa região amazônica onde ainda há muito o que se fazer no quesito
planejamento urbano. E mesmo o ritmo dos grupos de trabalho tenham sido
exaustivos, principalmente nos últimos dias, todas as noites mal dormidas, e
cansaço que normalmente nos abateu, ninguém arredou o pé, todos tinham algo ou
várias coisas que os motivavam, e uma delas sem dúvida era o fato de está
projetando não por obrigação, mas por paixão, paixão pela arquitetura, paixão
pela cidade em que vivem e paixão de estarem vivendo um momento único na vida,
que muitos souberam na hora de que aquela momento não se repetiria mais, como
diz a letra de Lulu Santos “Nada do que
foi será de novo do jeito que já foi um dia (...) tudo passa, tudo sempre,
passará...”. E como disse Einstein “Uma
mente que se abre para uma nova idéia jamais voltará a seu tamanho original”,
creio eu que a mesma coisa que eu deva ter sentido não deve ter sido um
sentimento isolado e sim coletivo, os acadêmicos de arquitetura da Unifap e
Ceap jamais verão a arquitetura da mesma maneira.
Primeira noite de festa |
Documentário
produzido por Julian Peña e Sebastián Alonso para o encerramento do SOS Cidades
2013:
Referências
Muito legal!!!
ResponderExcluirQuando o evento acabou e as pessoas perguntavam como foi e eu respondia: "É como se fosse um intercâmbio sem sair da cidade" e pensava também: "nunca mais pensarei arquitetura da mesma forma que antes."
Isso resume bem toda a experiência vivida nesta semana e creio que tive muita sorte por ter feito parte do Grupo 6, que mesmo falando idiomas diferentes entre si, nos comunicamos muito bem. Adorei a energia dos nossos "hermanos" e o modo como registram tudo graficamente.
Trueque , por cada trapicheo , verbal e ideologico .
ResponderExcluirHabito , por asegurarnos nuestro lo suyo
Erudicion , por la evocacion regional ante nuestra ignorancia
Enlace , por afianzar ambas castas , sin proposito ni condicion.
Muito bom!
ResponderExcluirProjetos como esse é que tornam a vida da população de uma cidade melhor.
Jvitor2012 skyscrapercity