sábado, 17 de abril de 2021

Macapá ano 2060 (Texto 2) - Mobilidade

Imagem: Pinterest

Como discutido no texto anterior, se as projeções populacionais do IBGE se confirmarem, até o ano de 2060 Macapá deverá alcançar 774 mil habitantes, quase a população que todo o Amapá tem hoje, e se levarmos em conta a Região Metropolitana, chegaremos a 984 mil pessoas, praticamente 1 milhão de moradores, o que mostra que mesmo em ritmo menor que o atual, a população amapaense continuará crescendo, na contramão da maior parte do Brasil e do mundo até lá.  

Congestionamento na Rodovia Duca Serra
Imagem: G1 AP, 2020
Congestionamento na Av. Padre Júlio
Imagem: G1 AP, 2021


Se nas últimas três décadas a população amapaense cresceu próximo de 200%, a frota de veículos cresceu próximo de inacreditáveis 1.550%, esta explosão de veículos a combustíveis fósseis (o etanol desapareceu da realidade amapaense há muitos anos), se explica pela total ausência de prioridade que o tema do transporte público, ou da mobilidade urbana não motorizada (pedestres e ciclistas), tem recebido do poder público, seja estadual ou municipal. O sistema de transporte coletivo macapaense é sucateado, ineficiente, de péssima qualidade e está entregue a um sinistro monopólio. A malha cicloviária é quase inexistente, a menor entre as capitais, até mesmo os novos serviços de aplicativos de transporte têm encontrado algumas dificuldades para se firmar, e quase tudo que se faz em relação a transporte é priorizando o veículo particular, como se este fosse o único sinônimo de mobilidade urbana, um pensamento ultrapassado no resto do mundo há pelo menos 50 anos. 


Com um transporte público tão ruim, sem malha cicloviária, sem calçamento adequado e arborização que estimule caminhadas, depender da mobilidade não motorizada ou do transporte público, tornou-se um suplício para a população, principalmente nos horários e dias mais quentes, que são a regra debaixo do sol do equador, o que faz com que a maioria da população faça o máximo esforço para adquirir um veículo particular assim que possível, seja carro ou moto, o que não quer dizer que a vida do motorista seja mais fácil, já que as ruas tem em geral uma péssima pavimentação, são mal sinalizadas e congestionam facilmente nos horários de pico. Acontece que este é um modelo insustentável a longo prazo, a cidade de Macapá não foi planejada com largos bulevares ou vias expressas, que deem vazão a um gigantesco quantitativo de veículos projetado para os próximos anos se o crescimento da frota continuar tão elevado, e estudos mostram que quanto mais se constroem vias para automóveis, mais a frota cresce, assim como os congestionamentos, portanto, a melhor saída seria apostar no transporte público e na mobilidade urbana não motorizada. 


Crescimento da frota e projeções conservadoras para o crescimento, mesmo desacelerando as estimativas, a frota amapaense terá ultrapassado mais de 1,2 milhão de veículos em 2060
Fonte: Denatran || Gráfico: Autoria própria



Pensando em escala metropolitana, que é o que Macapá e arredores serão em algumas décadas, o mais apropriado seria a implantação de um transporte público de massa, pensando no custo-benefício, e buscando minimizar os transtornos para a população, uma ideia seria a implantação de um monotrilho suspenso sob pilotis com construção toda pré-moldada para potencializar a eficiência e a rapidez na construção, evitando desperdícios de recursos. Segundo a experiência paulistana, o monotrilho pode custar até 50% menos que um sistema de metrô convencional subterrâneo, a implantação deste sistema seria parte de um plano macro de mobilidade urbana, onde ele seria a espinha dorsal do transporte público macapaense, aliado a outros modais alimentadores, como as linhas de ônibus, carros de aplicativos, ciclovias e quem sabe até um veículo leve sob trilhos (VLT) na região central. A solução ideal, nem sempre é a solução possível, porém como dizia Eduardo Galeano, a utopia está sempre no horizonte, quando mais me aproximo dela, mais ela se afasta, no fim ela serve para que eu continue caminhando. 


Referências  

Frota de Veículos (IBGE) 

Anuário Denatran (1990-2003) 

Frota de veículos em Macapá cresceu mais de 300% em dez anos – G1 Globo 

Evaporação do tráfego: o que acontece quando o espaço viário é redistribuído 

Monotrilho em São Paulo é opção real ao metrô