sexta-feira, 17 de maio de 2013

SOS Cidades 2013 - Macapá


Meu caro (a) leitor não costumo escrever aqui em primeira pessoa, porém creio que como fiz esse post para relatar o SOS, imagino que não teria maneira melhor de descrever o programa como contando minha experiência pessoal, então este seria acima de tudo um relato particular sobre o evento. Que sem dúvida mudou radicalmente tudo o que pensava sobre arquitetura e sobre como pensar um projeto, como estudante de arquitetura, sinto-me honrado de ter participado dessa experiência incrível. Depois do SOS minha visão de mundo foi expandida, minha visão da arquitetura mudou minhas expectativas agora são outras e meus sonhos agora são outros. De certo modo, sinto-me renovado para enfrentar uma grande jornada.

O que é o SOS?

O SOS Ciudades é um programa internacional realizado pela Taller Sudamérica e pela Faculdade de Arquitetura, Desenho e Urbanismo da Universidade de Buenos Aires (Fadu-Uba), em parceria com outras instituições de ensino superior da América do Sul. O programa promove um intercâmbio de uma semana entre acadêmicos e docentes destas universidades envolvidas para formulação de projetos de intervenção urbana em alguma cidade de uma região, ambos previamente estudados e analisados, e se possível com a participação de um curso local de arquitetura.
Nos últimos três anos o SOS Cidades dedicou-se a realizar projetos e análises em cidades da bacia amazônica, começando com Iquitos - Peru em 2011, Manaus - Amazonas em 2012 e Macapá - Amapá em 2013, integrando assim a nascente o meio e a foz do Rio Amazonas e da Bacia Amazônica.

Projetos
A metodologia do programa consiste na formação de grupos de trabalho heterogêneos para que haja a máxima troca de conhecimento possível entre os membros, sendo assim em todos os grupos houve acadêmicos estrangeiros e brasileiros, coordenados por um docente estrangeiro e um co-coordenador brasileiro (Embora quase nenhum dos nossos professores tenha participado). Antes de se iniciar os projetos propriamente ditos houve visitas a algumas áreas problemáticas da cidade, que poderiam ser área de grande interesse para propor um projeto de intervenção urbana.

Áreas visitadasCanal das Pedrinhas, Igarapé da Fortaleza e Vila Amazonas

Canal das Pedrinhas
Canal das Pedrinhas
Vila Amazonas



Trabalho dos grupos

Os trabalhos dos grupos ocorreram simultaneamente dentro da Fortaleza de São José, onde os acadêmicos foram divididos em nove grupos de trabalho, sendo que cada professor aplicou sua metodologia e a sua forma de ensinar. Particularmente gostei muito da metodologia aplicada pelo professor coordenador do meu grupo o Prof. Facundo Sniechowsk​i, que consiste primeiramente no olhar coletivo que todos tem ou tiveram sobre a cidade, depois a leitura das cinco escalas (Escala mundo, Escala América do Sul, Escala Amazônia pulmão do mundo, Escala Amapá o estado mais preservado do Brasil e a Escala Macapá a cidade das bacabas e basicamente mantida pelo funcionalismo público), bem como a análise de conceitos como (moradia, produção, identidade cultural e paisagem) e por fim a essência da área de intervenção ou seja, da cidade de Macapá que concluímos que a característica mais marcante da cidade que a diferencia de todas as outras são as áreas de ressacas, abaixo fiz um resumo básico dos projetos apresentados por cada grupo no final do SOS Cidades 2013.



Grupo 1 (Prof. Roberto Szraiber)
Dez estratégias para a transformação do Território
As dez estratégias propostas pelo grupo foram: 01. Consolidação dos portos já existentes, 02. Conexão navegável entre o Igarapé da Fortaleza e o Rio Amazonas, 03. Criação de uma rota de conexão do Amapá com Caribe e Oceano Pacifico, 04. Consolidação do Centro da cidade (Chamada de Cidade Baixa) com verticalização média e baixa, 05. Criação de um novo centro para cidade na região do Marabaixo (Chamado de Cidade alta), onde seria permitida alta verticalização, 06. Criação de uma nova orla interior nas áreas de ressaca paralelo, 07. construção de bairros ecológicos nas bordas das ressacas, 08. Criação de um novo centro de pesquisa e proteção ambiental, 09. Construção de portos interiores nas áreas de ressacas, e 10. Criação de uma rede de transportes com veículos anfíbios.



Grupo 2 (Prof. Michatek)
Janela Amazônica
O grupo abordou a cidade em três eixos principais, o Eixo Norte demarcado pelo Canal do Jandiá, Eixo Central demarcado pelo trajeto da Avenida Padre Júlio e a Rodovia Duca Serra, que juntas formam um eixo viário arterial importantíssimo de Macapá e por fim o eixo sul demarcado pela Avenida Equatorial. Entre as principais propostas do grupo foram no Eixo Norte (Canal do Jandiá), além de uma revitalização seria a construção de um terminal fluvial enquanto no Eixo Central seria a transformação do atual trapiche em um balneário público no Rio Amazonas, tendo em conta o calor abrasador da cidade e a pouca disponibilidade desse tipo de equipamento urbano.
 

Grupo 3 (Prof. Gustavo)
Floresta Urbana
Dentre as principais preocupações do grupo foram em relação ao saneamento básico nas áreas de ressacas, propondo o grupo uma tipologia de habitação popular para áreas de ressacas em paralelo com a infraestrutura de saneamento. Um dos locais de intervenção do grupo foi no Igarapé das Mulheres onde o grupo propõe uma conexão entre as orlas do Perpétuo Socorro e a Beira Rio e também uma praça chamada de "Praça úmida" já que aquela área tem uma grande ligação com o rio, e nesta praça haveria um mirante para o Rio Amazonas com restaurante e local de contemplação da paisagem.


Grupo 4 (Profª. Lucia Stafforini)
O grupo se preocupou com o crescimento populacional de Macapá e Santana, bem como isso iria naturalmente refletir na atividade portuária, tendo em vista que as duas cidades têm grande ligação com os rios, já que o Amapá é o único estado do Brasil que não possui ligação rodoviária com o restante do país. A proposta do grupo se dá na área ao longo da Rodovia JK, e consiste na consolidação de portos para todos os tipos de embarcação e da criação de uma rota econômica e turística entre Macapá e Santana, assim como uma rede de vias conectando as áreas de ressacas ao Rio Amazonas.

Grupo 5 (Prof. Claudio)
O grupo propõe uma intervenção no centro de Macapá através uma reconfiguração urbana, dentre as principais propostas seria a construção de um grande porto de produtos regionais, visando devolver a aquela região seu caráter original de contato com o rio e os produtos da floresta, propõe também um corredor cultural na atual Rua Cândido Mendes, concomitantemente a reconfiguração completa do centro de Macapá, para isso o grupo projetou uma tipologia de edificações modernas tanto para fins comerciais como culturais e habitacionais. E por fim a transformação da Avenida Mendonça Junior em uma via expressa que levaria até a atual área do exército que seria transformada em um centro de alta tecnologia.


Grupo 6 (Prof. Facundo Sniechowsk​i)
A maior ressaca do mundo
Através da análise de escalas, essências e conceitos, o grupo através de uma visão holística e sistêmica propõe 01. Um anel hidroviário ligando o Igarapé da Fortaleza, Lagoa dos índios, Canal do Jandiá ao Rio Amazonas, canal este que poderá ser usado tanto para fins turísticos como para o transporte público, 02. Um zoneamento nas bordas das áreas de ressacas para o uso sustentável voltado para as mais diversas produções agrícolas (Açaí, Banana, Pupunha, Coco, Mandioca, hortaliças etc.) e também para o uso turístico sustentável, 03. E propõe também uma tipologia de habitações para as áreas de ressacas que estaria concomitantemente associada a atividade comercial (Morar e trabalhar no mesmo local).


Grupo 7 (Prof. Cristian)
O.C.A. Ocupação Comunal Amazônica
O grupo parte da análise que Macapá não tem apenas uma orla (Rio Amazonas) e sim duas, pois as áreas de ressacas que são grandes reservadas de água também forma outra orla, uma orla interior. Então partindo desta análise o grupo propõe uma ocupação sustentável desta orla interior, e propõe integrar a população da cidade com a paisagem natural das ressacas, para isso o grupo também propõe uma nova tipologia de habitação e de passarelas nas áreas de ressacas (Com cobertura, iluminação, canalização para saneamento, eletricidade, telefone, internet etc.) agregando diversos serviços públicos para essas áreas, como uma medida de tirar essas populações da situação de marginalização que se encontram atualmente.


Grupo 8 (Prof. Fernando Servidio)
Um modelo de cidade amazônica
O grupo propõe um novo conceito de cidade amazônica, tendo em vista que atualmente, nossas cidades crescem de costas para a floresta e para sua relação história com os rios, sendo assim o grupo propõe várias tipologias de habitações e edificações das mais variadas funções. O grupo também propõe algumas conexões entre Macapá e Santana, e prevendo o crescimento da mancha urbana e da população de Macapá até 2020, e tem como proposta a ocupação sustentável das bordas das áreas de ressacas.
Grupo 9 (Prof. Andres Gomez)
O grupo partiu da análise sistemática de ver a Região Metropolitana e não somente Macapá ou Santana isoladamente, com isso o grupo propõe um complexo integrado de equipamentos urbanos prevendo o surgimento e crescimento da metrópole amapaense que até 2030 deverá ver mais de 1 milhão de habitantes, o complexo parte do eixo ao longo da Rodovia Duca Serra e integra aeroporto, Porto de Santana, Rodovias e Ferrovia. Que se configuraria em um Porto Turístico-Comercial no Centro de Macapá, Um pólo cientifico na região da Lagoa dos índios, Um terminal multimodal ligando Rodovia e Ferrovia no Marabaixo, Um terminal comercial (Porto Seco) no atual Distrito Industrial e se conectando ao Porto de Santana (Porto Global) que conecta o Amapá ao Brasil e ao mundo.


A integração

O intercambio não se limitou somente a troca de conhecimento sobre arquitetura e urbanismo, mas também se expandiu para uma verdadeira troca de culturas e de experiências de vida, de acadêmicos de duas realidades tão diferentes e distantes mas ao mesmo tempo tão próxima quando se trata de pensar o futuro das cidades, sobretudo na nossa região amazônica onde ainda há muito o que se fazer no quesito planejamento urbano. E mesmo o ritmo dos grupos de trabalho tenham sido exaustivos, principalmente nos últimos dias, todas as noites mal dormidas, e cansaço que normalmente nos abateu, ninguém arredou o pé, todos tinham algo ou várias coisas que os motivavam, e uma delas sem dúvida era o fato de está projetando não por obrigação, mas por paixão, paixão pela arquitetura, paixão pela cidade em que vivem e paixão de estarem vivendo um momento único na vida, que muitos souberam na hora de que aquela momento não se repetiria mais, como diz a letra de Lulu Santos “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia (...) tudo passa, tudo sempre, passará...”. E como disse Einstein “Uma mente que se abre para uma nova idéia jamais voltará a seu tamanho original”, creio eu que a mesma coisa que eu deva ter sentido não deve ter sido um sentimento isolado e sim coletivo, os acadêmicos de arquitetura da Unifap e Ceap jamais verão a arquitetura da mesma maneira.

Primeira noite de festa
Apresentação de Batuque no
Curiaú










Documentário produzido por Julian Peña e Sebastián Alonso para o encerramento do SOS Cidades 2013:



Referências