quinta-feira, 10 de julho de 2014

Pavimentação como obra eleitoreira

Em pleno período de eleição Governo do Amapá e
Prefeitura de Macapá lançam um programa de pavimentação.
Fonte: http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia...em-macapa.html

A pavimentação de ruas é a obra mais comum no Brasil durante o período eleitoral, primeiro por que a população desconhece os critérios técnicos e obras preliminares que devem anteceder o asfalto, tais como construção de galerias pluviais, canaletas e meio fio que evitariam que o asfalto se desgastasse e aumentaria sua durabilidade. Segundo que esta pavimentação eleitoral, além de muito mais rápida e barata do que a construção de uma escola ou um posto de saúde, por exemplo, traz ganhos políticos imediatos para os políticos que se utilizam desta artimanha, ainda que claramente eleitoreira, impacta os moradores que a anos clamam e esperam do poder público a pavimentação da sua rua.

Porém o  maior problema dessa pavimentação, no mínimo duvidosa, que visa o voto em detrimento dos critérios técnicos e do respeito pelo dinheiro público, é que quando este tipo de pavimentação é realizada, embora o custo x beneficio seja vantajoso para os maus políticos, esta acaba sendo muito mais cara e dispendiosa para toda sociedade, uma vez que no futuro será necessário remover boa parte deste asfalto pra implantação de obras de água, esgoto e drenagem, ou pior, quando essas obras não chegam, e a cidade vai se adensando e se urbanizando, o solo vai sendo impermeabilizado, aumentando inclusive a velocidade de vasão da água da chuva que depois se acumula, fazendo com que a probabilidade de alagamentos cresça exponencialmente, em Macapá já começamos a ver o inicio deste processo. 

Na realidade amapaense ainda tem um outro agravante, o inverno, ou período "invernoso", como gostam de falar as autoridades locais, é usado como desculpa para tudo, desde os serviços mais básicos como limpeza e manutenção urbana até a pavimentação. Geralmente o que tem sido feito pelas sucessivas gestões é a famosa "operação tapa-buraco" (Deveria ser chamada de Operação tapar o Sol com a peneira), supostamente como medida emergencial até a chegada do verão. O que geralmente termina em mais do mesmo: O verão chega, e inicia-se a pavimentação de péssima qualidade, com ganhos eleitorais temporários e após alguns anos (as vezes meses), a péssima pavimentação se desfaz, junto com dinheiro público que escoa junto, e a rua só ganha outra camada no próximo período eleitoral, ou seja, um verdadeiro looping temporal da pavimentação eleitoral.

Solução?
Primeiramente seria o poder público tratar o dinheiro do contribuinte e a população com seriedade, executando estudos e obras de infraestrutura preliminares antes da pavimentação propriamente dita, segundo seria melhorar a composição do asfalto utilizado (coisa que já foi prometida em campanhas anteriores), e por fim, não podendo executar todas essas obras, que se executem formas de pavimentação alternativas, como por exemplo bloquetes, embora existam diversas outras.


Leia também:
http://campus.fac.unb.br/cidade/item/3144-obras-realizadas-com-fins-eleitoreiros
http://www.jesocarneiro.com.br/cidade/alternativa-de-pavimentacao-em-bloquetes.html
https://www.idd.edu.br/blog/idd-news/pavimentacao-em-concreto-armado-a-alternativa-para-vias-urbanas
http://www.portaldetecnologia.com.br/tags/pavimentos-de-baixo-custo-para-vias-urbanas/



terça-feira, 1 de julho de 2014

O Largo dos Inocentes e a tentativa de higienização social

Largo dos Inocentes, "Formigueiro"
Foto: http://casteloroger.blogspot.com.br/

O higienismo social é uma ideologia que surge no final do século XIX, que consiste a grosso modo em limpar, higienizar a cidade de tudo aquilo que a enfeia, na prática consistiu em uma política de remoção da pobreza, de mendigos, usuários de drogas entre outras “personas non gratas” da vista da população, em outras palavras, uma tentativa de esconder a “sujeira” de nossa sociedade para debaixo do tapete. Hoje quase 150 anos depois ela ainda é usada por quase todos os gestores públicos, bem como é um pensamento elitista que entranha todas as camadas sociais. Um caso de notório e bem atual é a política de higienização do centro de São Paulo empreendida pelos governos do PSDB e PT, na região da Cracolândia. Uma tentativa fracassada de tentar limpar o centro de São Paulo que só fez espalhar o problema por todo o centro da cidade, outro caso mais extremo é a chacina da Candelária onde acredita-se até hoje que os comerciantes da região da Cinelândia no Rio, pagaram um grupo de extermínio para “limpar” a área de mendigos e meninos de rua.

O Largo dos Inocentes, também conhecido como Formigueiro, ou ainda apenas “Fórmis” pelos mais jovens, é o berço histórico da cidade de Macapá, foi lá que viveu Mãe Luzia, histórica parteira que hoje dá nome a única maternidade do estado, lá existia o antigo pensionato São José (Hoje parte do Vila Nova Shopping), lá existiu o Cine Paraíso um dos primeiros cinemas do Amapá (Reaberto por algum tempo e hoje vendido ao Shopping), é lá que fica a Igreja de São José, a edificação mais antiga da cidade e um dos poucos monumentos que faz referência aos mais de 250 anos da capital, assim como é lá que está a última casa colonial de Macapá (Que irá se tornar um espaço cultural), e sem falar que lá também está o famoso Bar da Dona Beth. A região do Formigueiro é também um centro para diversas manifestações culturais e ponto de encontro de diversas “tribos” urbanas macapaenses, que vão desde os pioneiros, até os heavy metal, passando pela comunidade LGBT.


Recentemente uma organização que tradicionalmente realiza eventos no largo, revoltou frequentadores e não frequentadores do lugar, ao declarar que o Formigueiro é um antro de “viciados” e “vândalos”, e que as árvores que existem lá atraem “desocupados”, e em uma clara tentativa de higienizar o lugar pediu a prefeitura de Macapá que cortasse todas as árvores e destruíssem todos os bancos (E os vândalos são os frequentadores né?!), o que sugere que além de querer higienizar socialmente a área, a organização ainda demonstra atitudes que lembra e muito uma privatização do espaço público.  A referida organização ignora o fato de que aquela área é pública, de que Macapá mesmo sendo uma cidade amazônica é extremamente mal arborizada e precisa de árvores, e que aquela área serve de ponto de encontro de diversas tribos. É lamentável que discursos como estes ainda existam e se propaguem em pleno século XXI, é como querer aleijar a cidade de um dos poucos espaços de convívio social que ainda temos. A prefeitura deveria intervir sim na região, porém não para descaracterizá-la e sim para revitalizá-la e potencializar as atividades culturais que ali existem e transformá-la em um corredor cultural para todas as tribos, todas as idades e, sobretudo para todos, afinal, aquele é um espaço público de uso comum e assim deve permanecer.