sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Obras de Oscar Niemeyer na Amazônia



O famoso arquiteto comunista, maior expoente da arquitetura moderna brasileira, reconhecido mundialmente dispensa apresentações, ao longo dos seus mais de 100 anos de idade, sendo mais de 70 de carreira, deixou uma vasta lista de projetos executados e não executados. Em vários países, em quase todos os continentes, e também em diversos estados brasileiros, porém apenas quatro de seus projetos estão na região norte, sendo dois executados, e dois não executados.

Talvez surpreenda a muitos, o fato de que hoje nos cursos de arquitetura e urbanismo em geral, Niemeyer não seja referência projetual para praticamente ninguém, não deixou seguidores, e não criou uma “escola de arquitetura”, tal quais outros grandes arquitetos modernos brasileiros ofuscados involuntariamente por ele, como Arthur Bratker, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha ou Lúcio Costa, que fez o projeto urbano de Brasília, comumente atribuído a Niemeyer, nomes praticamente desconhecidos do grande público, e super estudados nas faculdades. Como disse certa vez Paul Goldberger “Niemeyer foi a melhor e a pior coisa para a arquitetura brasileira”, visto que ao passo que revolucionou as possibilidades do concreto armado e catapultou a arquitetura brasileira, para o mundo, também é criticado pela ênfase na estética e na forma em detrimento da funcionalidade, além de ter deixado no imaginário popular que a arquitetura está nas grandes obras espetaculares, cara demais, e inacessível ao brasileiro comum.

Abaixo algumas obras de Niemeyer na Amazônia:

Memorial da Cabanagem (Belém - 1985)
Status: Executado
Construído para as comemorações dos 150 anos da revolta popular da Cabanagem
Imagem: Portal Amazônia

Memorial Coluna Prestes (Palmas - 2001)
Status: Executado
Memorial em homenagem a passagem da coluna Prestes pelo território tocantinense nos anos 20 e 30
Imagem: Portal Gov. do Tocantins

Memorial Encontro das Águas (Manaus – 2005)
Status: Não executado (Em estudo)
Memorial projetado em um dos pontos mais altos de Manaus, com a melhor vista para o encontro das águas
Imagem: Viva Manaus.com
Tribunal de Contas de Roraima (Boa Vista – 2010)
Status: Em construção
Uma das últimas obras elaboradas por Niemeyer em vida, atualmente está em construção, com problemas de licitação.
Imagem: Pinterest

 
Em sua defesa Niemeyer sempre disse que “A arquitetura é para causar espanto e encantamento”, e “Você pode gostar ou não da minha arquitetura, mas não pode dizer que alguém fez antes algo parecido”, ou sobre a crítica da estética em detrimento da função ele dizia “A prova de que minha arquitetura funciona é que continuam me chamando, se não funcionasse para algo, não me chamariam”. A arquitetura monumental e espetacular de Niemeyer é uma arquitetura do seu tempo, isto é, do auge do modernismo internacional, de meados do século passado, inclusive Niemeyer criou obras tão icônicas, que chega ser até mesmo um “corpo estranho” dentro do movimento moderno, onde superou até mesmo seu mestre inspirador Le Corbusier. Hoje suas obras são testemunhos de uma época de grandes utopias e de um arquiteto que desconheceu limites, que alguns dizem que acreditou na própria lenda e passou a copiar a si próprio. Mesmo com todas as críticas e contradições, é um privilégio para qualquer cidade e para as futuras gerações contar com uma obra deste memorável brasileiro.

Leia também:

Folha-Uol: “Niemeyer foi a melhor e a pior coisa para a arquitetura brasileira”
Lista completa de Obras de Oscar Niemeyer
Memorial da Cabanagem – Belém
Memorial Coluna Prestes – Palmas
Memorial Encontro das águas – Manaus
Tribunal de Contas de Roraima – Boa Vista


domingo, 15 de dezembro de 2019

MACAPÁ E SUAS ORLAS URBANAS




Quando falamos de orla em Macapá, a primeira imagem que em geral nos vem à mente é da orla do bairro Santa Inês, zona sul da capital, entretanto esta é uma pequena parte da orla, ou melhor, das várias orlas que temos. Orla é toda faixa de terra que margeia um grande corpo d´agua, orla urbana, por convenção, é toda faixa de orla dentro do perímetro urbano delimitado pelo plano diretor municipal. Porém não basta apenas ter orla dentro do perímetro urbano, é necessário também analisar se esta orla está urbanizada, se é de livre acesso público, e por fim seus usos e atividades, e em análise mais profunda, se ela conecta a cidade ao rio, ou se ela segrega a cidade do cotidiano ribeirinho. 

Ranking das orlas urbanas urbanizadas de algumas cidades e capitais da região norte
(Obs: Foram levadas em conta apenas trechos de orla da sede do município)
Fonte: Google Earth
Gráfico: Autoria Própria
Pois bem, em Macapá temos o privilégio de contar com a maior orla urbana e urbanizada de livre acesso público da região norte, são 6,2 quilômetros de orla, do Araxá ao Jandiá, e que vai ganhar mais um quilômetro quando o trecho do Aturiá estiver concluído, estendendo-a até a avenida equatorial, por onde passa a linha do equador, entretanto apenas uma pequena parte dessa orla, como a do Santa Inês de 3 quilômetros, é movimentada e atrai boa parte das atenções do poder público e do empresariado local. As demais contam com o esquecimento ou simplesmente são ignoradas. A seguir um resumo dos principais trechos de orla urbana de Macapá e suas características: 

Orla do Santa Inês
Orla do Santa Inês em 2019,
durante a colocação no novo posteamento feito pela prefeitura
Fonte: Blog Skyscrapercity 

Como dito antes, é a mais movimentada da cidade, referência local quando se fala em orla, faz parte do cotidiano de grande parte da população macapaense, atraí mais investimentos públicos e privados, é de relativo fácil acesso, principalmente para quem tem veículo próprio, e mais restritiva para quem depende de transporte público, uma vez que, por ela não passa nenhuma linha de ônibus. É predominantemente comercial e de lazer, e é mais frequentada no fim de tarde até a madrugada, dentre suas atividades estão algumas que conectam Macapá a vida ribeirinha, como na rampa do Santa Inês por onde chega açaí, peixe e farinha das ilhas.

Orla do Perpétuo Socorro
Trecho com erosão da orla do Perpétuo Socorro
Fonte: G1 AP, 2018

É um trecho tão belo quanto mau tratado de 2 quilômetros da orla de Macapá, começa no movimentado porto e feira do Igarapé das mulheres, responsável por grande parte do abastecimento de pescado da capital, e termina no porto do canal do Jandiá, aonde chega grande parte da madeira usada nas movelarias da cidade. É predominantemente residencial, usado principalmente no fim de tarde, tem sofrido vários efeitos da erosão em seu muro de arrimo, e tornou-se referência de abandono e periculosidade. Um dos problemas desse trecho é seu relativo isolamento e difícil acesso, exceto para os moradores dos bairros Perpétuo Socorro e Cidade Nova, esta orla não faz parte do cotidiano da maioria dos macapaenses, não é rota de passagem, e nem se conecta diretamente com o centro ou com o Canal do Jandiá, menos ainda com o restante da orla, há quem diga que esta é a razão de sua atual condição. 

Orla Interior
Ressaca da Lagoa dos índios
Fonte: Portal Gov. AP
Trechos de orla dos bairros margeados pela
Lagoa dos índios
Autoria própria
Costumamos imaginar orla como sendo apenas aquelas que margeiam um rio ou mar, ou como no caso macapaense o majestoso “rio-mar” Amazonas, entretanto as áreas de ressacas, regiões alagadas que circundam o perímetro urbano de Macapá, são um imenso bolsão de água com uma biodiversidade e paisagem riquíssimas, que talvez por conta da sua banalidade, pelo menos para quem vive o cotidiano macapaense, acaba passando despercebida. Porém nesta região se encontra a maior orla urbana, no interior do perímetro urbano de Macapá, incríveis 35 quilômetros, se contarmos apenas os bairros que são margeados somente pela Ressaca Lagoa dos índios. É uma orla praticamente invisível e de longe a mais problemática e que evidencia o maior problema social de Macapá, a ausência de uma política habitacional, que fez com que esta orla fosse em boa parte ocupada para fins de moradia por milhares de famílias carentes que moram em palafitas, mas não somente, bairros e condomínios de alto padrão também margeiam e ocupam trechos de ressacas, assim como distribuidoras, clubes e faculdades.


Em vermelho: Limite urbano municipal segundo plano diretor
Em Laranja: Os 28 quilômetros de orla urbana
Em verde: Os 6,2 quilômetros de orla urbana urbanizada
Imagem: Google Earth | Adaptação: Autoria própria

Outros trechos de orlas também merecem ser mencionados e citados, são o do Parque do Forte até a Beira Rio, fortemente usado para lazer e turismo, a orla da Fazendinha e Vale verde, que dão um texto á parte, a orla do Aturiá e a orla do lado macapaense do Igarapé da Fortaleza no limite com o município de Santana, que serve de porto, entreposto comercial e moradia. Como vimos Macapá é uma cidade entre orlas, várias orlas, com os mais variados usos, características e peculiaridades, que em grande parte não servem apenas para fins meramente contemplativos e de lazer, como também ainda contribuem em maior ou menor grau para conectar Macapá com o rio, com sua origem ribeirinha e consequentemente amazônica.

Lakes Flórida (EUA)
Orlas de lagos e represas tornaram-se 
objeto de valorização imobiliária e uso recreativo
Lakes Flórida (EUA)
Exemplo de usos e ocupação
de orlas interiores 




Leia também:

Projeto analisa a relação de municípios paraenses com os grandes rios da região
Áreas de ressaca pedem Socorro
G1 AP – Buracos causados por erosão na orla de Macapá, oferece riscos aos pedestres
Diário do Amapá – Orla do Perpétuo Socorro está orçada em 25 milhões