sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Obras de Oscar Niemeyer na Amazônia



O famoso arquiteto comunista, maior expoente da arquitetura moderna brasileira, reconhecido mundialmente dispensa apresentações, ao longo dos seus mais de 100 anos de idade, sendo mais de 70 de carreira, deixou uma vasta lista de projetos executados e não executados. Em vários países, em quase todos os continentes, e também em diversos estados brasileiros, porém apenas quatro de seus projetos estão na região norte, sendo dois executados, e dois não executados.

Talvez surpreenda a muitos, o fato de que hoje nos cursos de arquitetura e urbanismo em geral, Niemeyer não seja referência projetual para praticamente ninguém, não deixou seguidores, e não criou uma “escola de arquitetura”, tal quais outros grandes arquitetos modernos brasileiros ofuscados involuntariamente por ele, como Arthur Bratker, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha ou Lúcio Costa, que fez o projeto urbano de Brasília, comumente atribuído a Niemeyer, nomes praticamente desconhecidos do grande público, e super estudados nas faculdades. Como disse certa vez Paul Goldberger “Niemeyer foi a melhor e a pior coisa para a arquitetura brasileira”, visto que ao passo que revolucionou as possibilidades do concreto armado e catapultou a arquitetura brasileira, para o mundo, também é criticado pela ênfase na estética e na forma em detrimento da funcionalidade, além de ter deixado no imaginário popular que a arquitetura está nas grandes obras espetaculares, cara demais, e inacessível ao brasileiro comum.

Abaixo algumas obras de Niemeyer na Amazônia:

Memorial da Cabanagem (Belém - 1985)
Status: Executado
Construído para as comemorações dos 150 anos da revolta popular da Cabanagem
Imagem: Portal Amazônia

Memorial Coluna Prestes (Palmas - 2001)
Status: Executado
Memorial em homenagem a passagem da coluna Prestes pelo território tocantinense nos anos 20 e 30
Imagem: Portal Gov. do Tocantins

Memorial Encontro das Águas (Manaus – 2005)
Status: Não executado (Em estudo)
Memorial projetado em um dos pontos mais altos de Manaus, com a melhor vista para o encontro das águas
Imagem: Viva Manaus.com
Tribunal de Contas de Roraima (Boa Vista – 2010)
Status: Em construção
Uma das últimas obras elaboradas por Niemeyer em vida, atualmente está em construção, com problemas de licitação.
Imagem: Pinterest

 
Em sua defesa Niemeyer sempre disse que “A arquitetura é para causar espanto e encantamento”, e “Você pode gostar ou não da minha arquitetura, mas não pode dizer que alguém fez antes algo parecido”, ou sobre a crítica da estética em detrimento da função ele dizia “A prova de que minha arquitetura funciona é que continuam me chamando, se não funcionasse para algo, não me chamariam”. A arquitetura monumental e espetacular de Niemeyer é uma arquitetura do seu tempo, isto é, do auge do modernismo internacional, de meados do século passado, inclusive Niemeyer criou obras tão icônicas, que chega ser até mesmo um “corpo estranho” dentro do movimento moderno, onde superou até mesmo seu mestre inspirador Le Corbusier. Hoje suas obras são testemunhos de uma época de grandes utopias e de um arquiteto que desconheceu limites, que alguns dizem que acreditou na própria lenda e passou a copiar a si próprio. Mesmo com todas as críticas e contradições, é um privilégio para qualquer cidade e para as futuras gerações contar com uma obra deste memorável brasileiro.

Leia também:

Folha-Uol: “Niemeyer foi a melhor e a pior coisa para a arquitetura brasileira”
Lista completa de Obras de Oscar Niemeyer
Memorial da Cabanagem – Belém
Memorial Coluna Prestes – Palmas
Memorial Encontro das águas – Manaus
Tribunal de Contas de Roraima – Boa Vista


domingo, 15 de dezembro de 2019

MACAPÁ E SUAS ORLAS URBANAS




Quando falamos de orla em Macapá, a primeira imagem que em geral nos vem à mente é da orla do bairro Santa Inês, zona sul da capital, entretanto esta é uma pequena parte da orla, ou melhor, das várias orlas que temos. Orla é toda faixa de terra que margeia um grande corpo d´agua, orla urbana, por convenção, é toda faixa de orla dentro do perímetro urbano delimitado pelo plano diretor municipal. Porém não basta apenas ter orla dentro do perímetro urbano, é necessário também analisar se esta orla está urbanizada, se é de livre acesso público, e por fim seus usos e atividades, e em análise mais profunda, se ela conecta a cidade ao rio, ou se ela segrega a cidade do cotidiano ribeirinho. 

Ranking das orlas urbanas urbanizadas de algumas cidades e capitais da região norte
(Obs: Foram levadas em conta apenas trechos de orla da sede do município)
Fonte: Google Earth
Gráfico: Autoria Própria
Pois bem, em Macapá temos o privilégio de contar com a maior orla urbana e urbanizada de livre acesso público da região norte, são 6,2 quilômetros de orla, do Araxá ao Jandiá, e que vai ganhar mais um quilômetro quando o trecho do Aturiá estiver concluído, estendendo-a até a avenida equatorial, por onde passa a linha do equador, entretanto apenas uma pequena parte dessa orla, como a do Santa Inês de 3 quilômetros, é movimentada e atrai boa parte das atenções do poder público e do empresariado local. As demais contam com o esquecimento ou simplesmente são ignoradas. A seguir um resumo dos principais trechos de orla urbana de Macapá e suas características: 

Orla do Santa Inês
Orla do Santa Inês em 2019,
durante a colocação no novo posteamento feito pela prefeitura
Fonte: Blog Skyscrapercity 

Como dito antes, é a mais movimentada da cidade, referência local quando se fala em orla, faz parte do cotidiano de grande parte da população macapaense, atraí mais investimentos públicos e privados, é de relativo fácil acesso, principalmente para quem tem veículo próprio, e mais restritiva para quem depende de transporte público, uma vez que, por ela não passa nenhuma linha de ônibus. É predominantemente comercial e de lazer, e é mais frequentada no fim de tarde até a madrugada, dentre suas atividades estão algumas que conectam Macapá a vida ribeirinha, como na rampa do Santa Inês por onde chega açaí, peixe e farinha das ilhas.

Orla do Perpétuo Socorro
Trecho com erosão da orla do Perpétuo Socorro
Fonte: G1 AP, 2018

É um trecho tão belo quanto mau tratado de 2 quilômetros da orla de Macapá, começa no movimentado porto e feira do Igarapé das mulheres, responsável por grande parte do abastecimento de pescado da capital, e termina no porto do canal do Jandiá, aonde chega grande parte da madeira usada nas movelarias da cidade. É predominantemente residencial, usado principalmente no fim de tarde, tem sofrido vários efeitos da erosão em seu muro de arrimo, e tornou-se referência de abandono e periculosidade. Um dos problemas desse trecho é seu relativo isolamento e difícil acesso, exceto para os moradores dos bairros Perpétuo Socorro e Cidade Nova, esta orla não faz parte do cotidiano da maioria dos macapaenses, não é rota de passagem, e nem se conecta diretamente com o centro ou com o Canal do Jandiá, menos ainda com o restante da orla, há quem diga que esta é a razão de sua atual condição. 

Orla Interior
Ressaca da Lagoa dos índios
Fonte: Portal Gov. AP
Trechos de orla dos bairros margeados pela
Lagoa dos índios
Autoria própria
Costumamos imaginar orla como sendo apenas aquelas que margeiam um rio ou mar, ou como no caso macapaense o majestoso “rio-mar” Amazonas, entretanto as áreas de ressacas, regiões alagadas que circundam o perímetro urbano de Macapá, são um imenso bolsão de água com uma biodiversidade e paisagem riquíssimas, que talvez por conta da sua banalidade, pelo menos para quem vive o cotidiano macapaense, acaba passando despercebida. Porém nesta região se encontra a maior orla urbana, no interior do perímetro urbano de Macapá, incríveis 35 quilômetros, se contarmos apenas os bairros que são margeados somente pela Ressaca Lagoa dos índios. É uma orla praticamente invisível e de longe a mais problemática e que evidencia o maior problema social de Macapá, a ausência de uma política habitacional, que fez com que esta orla fosse em boa parte ocupada para fins de moradia por milhares de famílias carentes que moram em palafitas, mas não somente, bairros e condomínios de alto padrão também margeiam e ocupam trechos de ressacas, assim como distribuidoras, clubes e faculdades.


Em vermelho: Limite urbano municipal segundo plano diretor
Em Laranja: Os 28 quilômetros de orla urbana
Em verde: Os 6,2 quilômetros de orla urbana urbanizada
Imagem: Google Earth | Adaptação: Autoria própria

Outros trechos de orlas também merecem ser mencionados e citados, são o do Parque do Forte até a Beira Rio, fortemente usado para lazer e turismo, a orla da Fazendinha e Vale verde, que dão um texto á parte, a orla do Aturiá e a orla do lado macapaense do Igarapé da Fortaleza no limite com o município de Santana, que serve de porto, entreposto comercial e moradia. Como vimos Macapá é uma cidade entre orlas, várias orlas, com os mais variados usos, características e peculiaridades, que em grande parte não servem apenas para fins meramente contemplativos e de lazer, como também ainda contribuem em maior ou menor grau para conectar Macapá com o rio, com sua origem ribeirinha e consequentemente amazônica.

Lakes Flórida (EUA)
Orlas de lagos e represas tornaram-se 
objeto de valorização imobiliária e uso recreativo
Lakes Flórida (EUA)
Exemplo de usos e ocupação
de orlas interiores 




Leia também:

Projeto analisa a relação de municípios paraenses com os grandes rios da região
Áreas de ressaca pedem Socorro
G1 AP – Buracos causados por erosão na orla de Macapá, oferece riscos aos pedestres
Diário do Amapá – Orla do Perpétuo Socorro está orçada em 25 milhões

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

E SE O AMAPÁ NUNCA TIVESSE SIDO CRIADO?

Recorte do mapa do Estado do Pará em 1923
(Arquivo Nacional)

Antes de tudo, é preciso dizer que a historiografia séria não trabalha com “achismos” ou com “e se...”, pois bem, então vamos ao nosso exercício de imaginação, que abre um leque de infinitas possibilidades e teorias. Teorizar sobre cenários históricos hipotéticos, chama-se "história contrafactual", que na realidade está mais para um ramo da ficção do que para a historiografia. Dito isto então vamos lá! 

Mesmo nos dias atuais pouquíssima coisa diferencia amapaenses de paraenses, o mesmo sotaque chiado com o uso do “égua” e suas variantes, o mesmo emprego do “tu” ao invés de “você”, a mesma culinária com açaí, maniçoba, vatapá e tacacá, sem falar no círio de Nazaré e tecno-brega, de vários modos o Amapá tem mais em comum com o Pará que o próprio sul do Pará, que tem uma forte influência mineira e goiana. Mas e se Vargas nunca tivesse assinado o decreto 5.815 em 13 de Setembro de 1943? Bem, para começar a responder essa pergunta, talvez devêssemos olhar para o atual noroeste do estado do Pará, onde estão os municípios de Almeirim, Prainha, Monte Alegre, Alenquer e assim por diante, os municípios a margem esquerda do rio Amazonas, até por que, as terras que viriam a ser o Amapá, nada mais eram do que uma continuidade dessa região, então norte do Pará, estes municípios tem hoje uma média de 42 mil habitantes cada, um IDH (índice de Desenvolvimento Humano) em torno de 0,580, considerado baixo e um PIB per Capita em média de R$ 10.623, considerado mediano, ou seja, nada muito animador.


Vista Parcial da frente do município de Prainha, noroeste do Pará
(Blog do Noblat)

É bem provável que sem a instalação do território e posteriormente do estado, tivéssemos menos municípios, menos gente, e menos serviços públicos e privados por esses lados, municípios como Itaubal, Cutias, Pracuúba entre outros provavelmente não existiriam, é possível que apenas localidades mais antigas como Macapá, Mazagão, Amapá e Oiapoque existissem hoje como municípios. A Macapá que conhecemos e que junto a Santana concentra 75% da população amapaense, seria bem diferente, primeiramente teria uma população bem menor, e menos diversificada, lembremos que o Amapá desde a instalação do território foi um local de atração populacional, sem a máquina econômica movida pelo setor público da atualidade, a economia dos municípios da região continuariam girando em torno da pecuária, da agricultura de subsistência e do extrativismo, com isso o fluxo migratório de paraenses, de nordestinos, sulistas, goianos etc. seria desviado pra outros lugares como a própria Belém que seria ainda maior e mais inchada que hoje, como também para Manaus e para a Guiana Francesa.

Centro histórico colonial de Macapá em 1908
(Álbum do Estado do Pará 1908)

Por outro lado Macapá provavelmente teria mantido seu centro histórico colonial que foi destruído pelo processo de “modernização” e “embelezamento” promovido durante o período territorial, quanto a tradicional população negra que habitava a frente da cidade provavelmente continuaria por lá por muitas décadas, quem sabe até a atualidade. Macapá teria hoje um centro histórico negro, uma versão bem reduzida e amazônica do Pelourinho de Salvador. Já na economia é bem provável que o projeto ICOMI (Indústria Comércio e Mineração) tivesse se instalado, e Macapá teria uma dinâmica parecida de Oriximiná com a MRN (Mineração Rio do Norte), Serra do Navio dificilmente teria se transformado em município após a saída da ICOMI, sendo hoje mais parecida com uma cidade fantasma, algo como Fordlândia.


Frente de Macapá 'Rua da praia"onde hoje é o Macapá Hotel
Região anteriormente habitada pela população negra
(Álbum do Estado do Pará 1908)
Mas no século XXI a região já seria emancipada né? Bem, provavelmente não. No dia 11/12/2011 realizou-se no Pará o primeiro, e até hoje. o único plebiscito na história do Brasil, onde a população foi consultada se queria ou não dividir seu estado para dar origem a outro. Lembremos que quase todos os desmembramentos na história do Brasil se deram sob governos ditatoriais. Também temos que lembrar que as regiões que pleitearam a separação do Pará (Sul e oeste do estado), contam com importantes cidades médias, que são importantes polos econômicos e de poder de elites locais, tais como Marabá, Santarém, Altamira e Itaituba, algo que provavelmente não teríamos nestas bandas, com isso as elites e oligarquias locais não teriam o poder político e econômico necessários para mobilizar as massas, como no sul e oeste do Pará, ficando um eventual movimento separatista no mesmo estágio hipotético que tem hoje o projeto de criação do Território Federal do Marajó ou do Oiapoque. 

O atraso da região em relação a educação e saúde seria muito maior do que é hoje, é provável que ao invés da Unifap, Ueap e Ifap tivéssemos um polo da UFPA, com opções bem limitadas de cursos, fazendo com que os jovens fossem pra Belém cursar nível superior, algo que durou com maior intensidade até os anos 90. As idas a Belém para resolver problemas mais complexos de saúde, documentação entre outros também seriam ainda mais recorrentes que nos dias atuais. O barco provavelmente continuaria a ser o rei do transporte por essa região, viação aérea seria reservada para emergências ou para os super-ricos. Ademais continuaríamos reunindo a família pra comer pato no tucupi todo segundo domingo de outubro, e indo para nossas festas de aparelhagem.

domingo, 7 de abril de 2019

Precisamos falar sobre a Avenida FAB




As origens da Avenida FAB (Força Aérea Brasileira) remontam aos tempos em que o local era o único campo de pouso de aeronaves em Macapá, que sofreu um surto de construções públicas “modernas”, nos anos 70 e 80, afim de transforma-la em vitrine de modernidade durante o período territorial, foi passarela do samba até a construção do sambódromo, e até hoje é palco dos principais protestos sociais. Pois bem, essas histórias são bem conhecidas pelos moradores, pesquisadores e testemunhas oculares destas transformações. Entretanto, o foco deste texto é outro, é analisar as relações e a importância desta via para o contexto urbano da cidade.

A FAB é uma avenida icônica da cidade, por ela passam simplesmente todas as linhas de ônibus, nela estão localizadas quase todas as secretarias de estado, as escolas públicas mais tradicionais e as sedes dos três poderes. É por assim dizer a nossa “esplanada dos ministérios tucujú”, e um dos lugares que melhor sintetiza isso, é o complexo administrativo, localizado na Avenida FAB entre a rua Leopoldo Machado e rua Jovino Dinoá, que abriga a maioria das secretarias da administração estadual, é uma região com dinâmica e infraestruturas já consolidadas, e que está localizada no epicentro da mancha urbana, equidistante entre os extremos das zonas sul, norte e oeste da cidade. Contudo, nos últimos anos, tem-se notado uma transferência gradual de muitos órgãos do eixo FAB para a nova Rodovia Norte-sul, sem nenhum planejamento urbano e com poucas melhorias para os bairros do entorno, já se fala até na construção de outro complexo administrativo na região, algo que já tem sido feito em outras capitais, a primeira vista pode ser uma ideia interessante, eu mesmo já fui favorável, entretanto temos que analisar todos os aspectos que envolvem uma proposta como esta.

Vários estados brasileiros já construíram novos complexos administrativos, as chamadas “cidades administrativas”, o caso mais emblemático é a de Minas Gerais, construída durante a gestão do ex-governador Aécio Neves, e um dos últimos projetos de Oscar Niemeyer. A ideia de centralizar, simplificar e otimizar toda a administração pública estadual em um só local é ótima, porém leva-la para fora da região central da cidade, onde todo sistema de transporte coletivo e mesmo de transporte individual já está consolidado não me parece ser uma boa ideia, o impacto maior seria sentido em curto ou longo prazo, em maior ou menor grau, pela rede de comércio formal e informal dos mais variados serviços que passaram a orbitar em torno deste centro consolidado e o fluxo de funcionários públicos e terceirizados que circulam pela região, o bem estar dos usuários deve ser o foco central de qualquer bom projeto, não é o que tem se notado nestes centros administrativos país á fora.

Cidade Administrativa de Minas Gerais
Foto: BHAZ

No caso da Cidade administrativa de Minas, construída há mais de 30 km de distância do centro, custou quase 2 bilhões de reais, e tem um custo mensal de manutenção estimado em 440 mil reais, além de está envolvida em suspeitas de fraudes e superfaturamento, também tem cifras assustadoras quando consideramos os 12 .000 m²  do Palácio Tiradentes (um dos prédios do complexo), e seus ínfimos 160 funcionários. Para suprir a falta de comércio e serviços no entorno, construiu-se um shopping, que como podemos imaginar tem preços bem mais elevados e uma quantidade de serviços mais limitada do que os disponíveis no centro da cidade, reclamações dos funcionários ocorrem pelos mais variados motivos, dentre os principais estão à distância, o isolamento e o preço das refeições. A julgar pelo histórico de obras públicas e os projetos executados pelo governo do Amapá, ninguém garante que algo semelhante não ocorreria por aqui, com um agravante, diferente de Belo Horizonte com sua economia dinâmica e diversificada, Macapá é uma cidade com uma economia essencialmente baseada no funcionalismo público.

Qual seria a solução ideal então?
Imagem do projeto vencedor do concurso de projeto para
o novo complexo administrativo do Maranhão - Concurso de Projeto.org

O governo do Amapá dispõe de uma grande quantidade de áreas no eixo FAB, a Secretaria de Educação (SEED), por exemplo, ocupa 2/3 de uma quadra (10.500 m²), tem ainda a atual quadra onde está o complexo administrativo (14.700 m²), a área do antigo Macapá Clube (3.600 m²) que pode ser comprada, e a abandonada casa do governador (7.900 m²). A solução, a meu ver, seria a verticalização, através de projetos bem elaborados, e nada melhor do que a realização de concursos de projetos de arquitetura, para a concepção projetos inteligentes e eficientes, que ao mesmo tempo que incluam novos edifícios, removam outros, também mantenham edificações de valor histórico e arquitetônico, tal como o atual prédio da SEINF (Secretaria de Infraestrutura), projetado por Vilanova Artigas nos anos 70, o núcleo da Casa do Governador dos anos 40 erguido por Janary, sem esquecer de preservar algum dos atuais blocos administrativos construídos nos anos 80 para manter parte do patrimônio moderno como lembrança, qualidades de um bom projeto, que manteria a economia e as dinâmicas econômicas e sociais já consolidadas e estabelecidas, evitando o problema do esvaziamento e favelização da região central da cidade, já experimentado em outras grandes cidades, com as vantagens que a otimização da administração pública centralizada em um só local poderia proporcionar, ainda economizando aos cofres públicos o dinheiro que hoje está indo para o aluguel de prédios particulares inadequados que abrigam diversos órgãos estaduais. 

Prédio da SEINF - Acervo Pessoal
Casa do Governador - Foto: G1/Globo

Tipologia das Secretarias do Bloco Administrativo
Construídas nos anos 80 - Foto: GEA/SECOM

Leia também:
Primeiro lugar do concurso de projeto para o novo Centro Administrativo do Maranhão: https://concursosdeprojeto.org/2013/07/16/primeiro-lugar-concurso-para-o-centro-administrativo-do-maranhao/
Aécio Neves deu prejuízo milionário a Minas Gerais com a construção da Cidade Administrativa:  http://www.ptmg.org.br/aecio-neves-deu-prejuizo-milionario-a-minas-gerais-com-a-construcao-da-cidade-administrativa/#.XKpsf1VKjIU


domingo, 31 de março de 2019

10 PROJETOS NÃO EXECUTADOS PELO REGIME MILITAR NO AMAPÁ



Ao longo das décadas vários projetos foram elaborados ou idealizados para Macapá e para o estado do Amapá, então território federal, oficialmente dependente da união. E foi justamente durante este período territorial, em especial nos anos de 1970, no auge da ditadura militar brasileira, que mais se elaboraram projetos que nunca saíram do papel no Amapá, projetos que se tivessem sido implantados teria resultado em uma Macapá bem diferente do que conhecemos, abaixo uma relação dos principais projetos jamais executados:

Museu Industrial do Amapá - 1971
Imagem: Acervo FAU-USP
Pouco se sabe deste projeto do renomado arquiteto paulista Vilanova Artigas que durante os anos 70 elaborou diversos projetos para Macapá, o que se sabe é que este museu seria dedicado a expor a atividade industrial amapaense, então “terra do manganês”, o local onde seria construído nunca ficou muito claro, porém especula-se que fosse ao entorno do marco zero.

Divisão de Guarda e Segurança – 1972
Imagem: Acervo FAU-USP

Outro excelente projeto de Vilanova Artigas, também não executado, foi o prédio da divisão de guarda do território, seria um prédio de linhas modernas, lembraria o prédio da atual Secretaria de Infraestrutura – SEINF (Também projetada por Artigas em 1970), entretanto seria bem mais imponente e bem localizado, seria construído na esquina da antiga Avenida Amazonas (atual R. Azarias Neto) de esquina com a Av. Padre Júlio.


Complexo do Estádio Zerão – 1972
Imagem: Acervo FAU-USP
Sem dúvidas o maior projeto de Artigas para o Amapá, englobaria toda a área do atual Estádio Zerão (inaugurado incompleto somente em 1990), do atual monumento Marco Zero (inaugurado em meados dos anos 80), e a área onde hoje está o sambódromo e entorno. Seria um grande parque esportivo tendo o estádio como centro, rodeado de outros equipamentos como quadras de tênis entre outros.

Parque Beira Rio – 1973
Imagem: Plano fundação João Pinheiro
Macapá teve que esperar até os anos 2000 para ter seu primeiro parque público, o parque do forte, o que poucos sabem é que muitas décadas antes a capital amapaense já deveria ter um grande espaço público de lazer, o Parque Beira Rio que fazia parte de uma série de projetos do Plano Diretor Urbano elaborado pela Fundação João Pinheiro em 1973, plano este também não implementado.


Rodovia de Interligação Nº 3 – 1973
Imagem: Plano fundação João Pinheiro
Ainda no plano João Pinheiro estava prevista uma terceira rodovia ligando Macapá e Santana (então distrito de Macapá), além das já existentes Juscelino Kubistchek e Duca Serra, partiria do bairro do Congós e sairia direto onde hoje está localizado o distrito industrial em Santana, cortando enormes trechos da lagoa dos índios, além destas teriam outras rodovias interligando a Fazendinha ao que hoje é o bairro Marabaixo e outra ligando a Vila Amazonas ao distrito do Coração.

Parque do Marco Zero – 1979
Imagem: Plano H.J. Cole
Parte do Plano diretor H.J. Cole de 1979, um dos, se não o melhor plano diretor de Macapá até os dias atuais, continha vários projetos detalhados, quase todos não executados. O parque do Marco Zero ficaria no encontro da linha do equador com o rio Amazonas, onde hoje é o bairro do Araxá e a orla do Aturiá, foi pensado para ser uma “área nobre”, tendo um iate clube, quadras de tênis, campos de futebol, um observatório astronômico, relógio de sol e um museu de arte. Realidade bem diferente do que encontramos hoje na região.

Projeto Buritizal – 1979
Imagem: Plano H.J. Cole
Ainda fazendo parte do Plano H.J. Cole, o projeto original do bairro do Buritizal, levava em conta a topografia do terreno, implantando seu arruamento quase de forma orgânica, e respeitando as áreas de ressacas e suas margens, teria área para comércio, áreas institucionais e setores para famílias de renda baixa, média e alta, seria executado de forma gradual em três fases, nenhuma entretanto saiu do papel.

Parque do Laguinho -1979
Imagem: Plano H.J. Cole
Este parque seria localizado na Rua São José, entre Av. Enertino Borges e Av. Nações Unidas (atual José Tupinambá), um projeto avançadíssimo para a época com uma série de equipamentos de lazer e três vezes maior do que a atual praça Floriano Peixoto. Se quiser saber mais sobre este projeto leia este texto já escrito sobre ele aqui no blog (link A outra Floriano )

Orla Ribeirinha e Parque Beira Rio – 1979
Imagem: Plano H.J. Cole
Ainda dentro dos projetos do Plano H.J. Cole, tivemos outro projeto de um parque na área da atual Beira rio e Parque do Forte, este, entretanto ia além, pois previa um porto e uma orla de comércio ribeirinho, para o comércio dos mais diversos produtos que até hoje abastecem a capital amapaense, tais como açaí, madeira, camarão, farinha, palmito entre outros. É uma concepção ainda hoje bastante moderna de urbanizar as regiões de orla, sem eliminar as atividades econômicas existentes.  

BR 210 Perimetral Norte – 1977
Imagem: G1/Globo
Esta foi uma rodovia “irmã” da Transamazônica, começou sem projeto, sem planejamento e foi interrompida sem ser concluída e sem pavimentação. Esta foi a Rodovia Perimetral Norte, idealizada para defesa da fronteira norte brasileira, começou a ser construída em 1973 aproveitando 103 quilômetros previamente construídos pelo projeto ICOMI, as obras foram suspensas após invadirem terras indígenas dos Waiãpis o que terminou em conflito, depois de quatro anos de trabalho e apenas 68 quilômetros abertos sem pavimentação na maior parte do seu trecho o projeto foi definitivamente abandonado em 1977, atoleiros e ausência de pavimentação ainda são uma realidade para quem utiliza a rodovia que leva ao oeste do Amapá. 

Referências:


Macapá | Amapá | Projetos | Projetos não executados | Regime militar | Ditadura militar