domingo, 27 de dezembro de 2015

MACAPÁ A CAPITAL MENOS SEGREGADA DO BRASIL, MAS NÃO HÁ O QUE COMEMORAR

Segundo um estudo recente publicado pelo jornal virtual Nexo e elaborado pelos pesquisadores Daniel Mariani, Murilo Roncolato, Simon Ducroquet e Ariel Tonglet revelou o mapa da segregação racial e sócio espacial no tecido urbano das cidades brasileiras, o Mapa Racial do Brasil. Também foi elaborado um ranking entre as capitais brasileiras para medir o nível de dissimilaridade (segregação) entre elas, apresentando Porto Alegre - RS como sendo a capital com maior nível e Macapá – AP com o menor nível de dissimilaridade. Acompanhe os dados abaixo:

Mapa Racial do Brasil

Vemos claramente dois brasis, um ao sul majoritariamente branco e outro ao norte majoritariamente pardo.


Mapa Racial: Rio de Janeiro, Brasília e Salvador

Salvador


Rio de Janeiro

Brasília


Mapa Racial de Macapá
Mapa Racial da Região Metropolitana de Macapá 2015

 
No mapa aparece a Região Metropolitana de Macapá (Macapá e Santana), podemos observar a predominância esmagadora da população parda em Macapá, bem como não conseguimos observar grandes diferenças de distribuição sócio espacial entre os diferentes grupos étnicos no tecido urbano da capital Macapaense, no geral as capitais da Região Norte apresentaram os menores índices de segregação entre todas as capitais brasileiras.  

Ranking da segregação nas capitais brasileiras

Ainda que os índices de segregação de Macapá possam parecer animadores não demostram necessariamente uma boa distribuição de renda, ou um menor nível de desigualdades entre brancos, pardos e negros, apenas mostra que eles dividem o mesmo território, o que não significa que eles necessariamente se misturem, a segregação por renda ainda se faz presente, podemos estar observando populações brancas e pardas de maior renda coexistindo juntas nas regiões mais valorizadas da cidade em oposição a populações pardas e brancas de menor renda coexistindo juntas nas regiões periféricas. Empiricamente também é possível notar claramente que existem grandes desníveis econômicos entre populações de um mesmo bairro, e de uma mesma rua em praticamente todos os bairros de Macapá, onde populações de classe alta moram literalmente ao lado de populações de baixa renda, também é impossível falar de contexto urbano Macapaense sem falar das populações habitando as áreas de ressacas* o que mostra que a dissimilaridade macapaense seja talvez um pouco mais complexa do que no restante do país.
Desigualdade entre vizinhos -
Região central de Macapá
(Imagem: Google Stret View)

Desigualdade entre vizinhos -  
Região central de Macapá
(Imagem: Google Stret View)




Embora os níveis de desigualdade em Macapá sejam relativamente baixos hoje nada garante que continuarão sendo num futuro próximo, uma vez que a capital macapaense em seu intenso processo de expansão urbana vem reproduzindo cada vez mais a dinâmica urbana já consolidada nos grandes centros do país, onde a elite se enclausura em condomínios fechados de alto padrão e enquanto que o mercado e os programas habitacionais empurram as populações de baixa renda para regiões cada vez mais periféricas, em Macapá já é visível este processo onde se proliferam os condomínios de luxo ao longo da Rodovia Juscelino Kubitschek na Zona Sul e a população mais pobre é empurrada para outro extremo da cidade na Zona Norte, seja pelo mercado ou pelo Minha Casa Minha Vida (Exemplo o Complexo Cid. Macapaba).

Existe saída?
Assim, o que especialistas sugerem é a criação de políticas públicas que regulem melhor o mercado mobiliário e seu papel sobre a ocupação das cidades, a melhoria das condições de transporte entre periferias e centro, a descentralização dos ambientes de trabalho (como regiões de alta concentração comercial), além da criação de políticas afirmativas que permitam a integração de grupos de raça ou cor e condições sociais diversas.



Sobre o ranking: O ranking foi montado a partir do índice demográfico de dissimilaridade, de 0 a 100, utilizado para comparar a presença de dois grupos distribuídos em pequenas áreas (regiões censitárias) em relação à composição total da cidade. Imaginemos uma cidade que possui 10 setores censitários e é composta por 90% brancos e 10% negros. O índice será 100 se todos os negros estiverem concentrados em apenas um setor e todos os brancos nos demais; e será 0 (zero) se todos os setores censitários tiverem a mesma composição da cidade (no caso, 90% brancos e 10% negros).
Sobre o Mapa: A cada censo o IBGE reúne as informações da população no menor conjunto amostral, o setor censitário, que tem tamanho variado de acordo com a densidade populacional local. O mapa que você vê acima foi montado adicionando-se dentro dos blocos aleatoriamente pontos que representam cada uma das pessoas residentes no local e colorindo-os de forma equivalente à proporção de raça/cor autodeclarada (preto, pardo, branco, amarelo ou indígena) no bloco. Alguns pontos se encontram dentro de parques ou em águas pois as delimitação dos setores censitários muitas vezes incluem essas regiões. Para executar essa tarefa se adaptou o código aberto desenvolvido por Dustin Cable no Grupo de Pesquisa Demográfica da Universidade de Virginia, nos Estados Unidos, que produziu o mesmo projeto para a população americana (mais informações aqui).

*Áreas de ressacas: Linguagem regional amapaense para descrever áreas úmidas e alagadiças que circundam as cidades de Macapá e Santana e estão sujeitas as águas de maré do Rio Amazonas. 

Referências:

2 comentários:

  1. João Victor Cavalcante Lima26 de março de 2020 às 05:53

    Amigo, muito obrigado, isso me ajudou bastante com questão a um trabalho referente a matéria de Sociologia, sou Aluno da Escola Estadual Augusto dos Anjos e atualmente curso o 2° Ano do Ensino Médio e por um lado essa matéria trás informações boas sobre a minha cidade coisas que nem eu imaginava ou sabia, parabéns pela matéria

    (inclusive a primeira foto é perto de minha casa kkkkkk)

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