sábado, 28 de novembro de 2015

MOBILIDADE URBANA E DESIGUALDADE SOCIAL

Foto: httpviatrolebus.com.br 
A sociedade brasileira é excludente e desigual, isso é praticamente consenso entre todos os brasileiros que tem o mínimo de sensibilidade, e a desigualdade se verifica das mais diversas maneiras, seja na diferença salarial entre homens e mulheres, brancos e negros, seja no nível de escolaridade enfim a desigualdade pode ser evidenciada de diversas maneiras, porém o que poucos debatem, mesmo entre os setores mais progressistas, é a desigualdade social em se tratando de mobilidade urbana, o que é fundamental de ser analisado se queremos uma sociedade mais justa, a mobilidade urbana é um elemento vital que pode criar um abismo entre a qualidade de vida daqueles que podem e os que não podem se deslocar adequadamente pela cidade.

Uma cidade só existe para quem por ela pode se movimentar, porém segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – ANTU, mais de 37 Milhões de brasileiros não tem dinheiro para pagar as tarifas regularmente, e para uma família com renda média mensal de um salário mínimo, o gasto com transporte mesmo com meia passagem chega a 33% do orçamento familiar segundo o Movimento tarifa zero de São Paulo, ou seja, a mobilidade urbana em nossas cidades é tão desigual quanto nossa sociedade, circula quem tem condições de circular, quem não tem fica imóvel, e é justamente o que acontece com uma parcela significativa dos brasileiros, infelizmente a mobilidade urbana foi transformada em mercadoria, o que não podemos permitir visto que a mobilidade é o direito que garante o acesso a todos os outros direitos.

Uso de transporte individual e coletivo por renda familiar 
(fonte: Pesquisa de Mobilidade Urbana/ Metrô, 2012)
Como se não bastasse esse quadro já alarmante, os governos, os lobbies do transporte público e os diversos agentes modeladores do espaço urbano continuam perpetuando a lógica do urbanismo rodoviarista, onde para cada 1 (Um) Real investido em Transporte público os governos gastam em média, outros 12 (Doze) reais em obras e infraestrutura de incentivo a carros e motos, sendo que mais de 70% das movimentações dentro das cidades, em geral são feitas por transportes públicos e não por automóveis particulares. Toda a concepção atual de transporte público está organizada para garantir o maior lucro possível aos empresários, mais gente dentro do mínimo de ônibus possível, logo menor custo com manutenção e funcionários igual a maior lucratividade, e o próprio trajeto das rotas de ônibus se limitam a lógica Centro-Periferia, ou seja, Escola/Trabalho – Casa, como se a população tivesse como único direito exclusivo trabalhar ou estudar e voltar para casa, e o pior maior parte dos equipamentos culturais encontra-se em bairros centrais ou considerados nobres ou então em bairros ultra periféricos de difícil acesso.


Outra questão que pouco se debate é o tempo de deslocamento, e a distância do local de trabalho/estudo para o local de moradia, segundo a pesquisa de Mobilidade Urbana do Metrô de São Paulo de 2012, quanto maior a renda familiar mais se usa o transporte particular e menor o tempo de deslocamento, e ao contrário quanto menor a renda familiar maior o uso de transporte público e maior será o tempo de deslocamento. E quanto a distância entre local de trabalho e local de moradia? Este também é um tema que poucos estão dispostos a debater. Nas últimas cinco décadas assistimos ao crescimento colossal da população das cidades brasileiras, porém devido a nossa urbanização dispersa e horizontal os subúrbios tornaram-se densamente habitados em detrimento das regiões centrais praticamente desabitadas no período noturno, enquanto que a lógica deveria ser inversa, as regiões centrais deveriam ser densamente habitadas predominantemente por populações de menor renda e as áreas suburbanas  deveriam abrigar a população de maior renda, uma vez que estes tem melhores condições de se deslocarem. Um exemplo de como o próprio estado favorece esta desigualdade é quando este instala os grandes projetos habitacionais do Minha Casa Minha Vida em regiões ultra periféricas onde os terrenos são mais baratos porém a mobilidade urbana é precária. 

O metrô de São Paulo transporta diariamente 3 milhões de pessoas
 (População do Uruguai)  no sentido Zona Leste - Centro - Zona Leste.    Foto: qga.com.br
Como todos os problemas urbanos, a questão da mobilidade urbana implica em formulação de políticas de longo prazo e que enfrentem interesses, sobretudo do mercado imobiliário que hoje é o maior empecilho das boas políticas urbanas, da boa arquitetura e da urbanidade de um modo geral. Propostas como a da tarifa zero, a desapropriação de prédios abandonados e terrenos baldios para fins de implantação de habitação de interesse social, bem como massivos investimentos em transportes coletivos e alternativos podem ser algumas das saídas para melhorarmos as cidades brasileiras, porém mesmo que estas políticas começassem hoje com grande pressão e organização da sociedade civil organizada, ainda sim os resultados práticos começariam a ser sentidos somente longo prazo, o que mostra a urgência de darmos a devida seriedade ao tema da mobilidade urbana ainda hoje. 

Referências:

2 comentários:

  1. Olá!
    Interessante como os problemas urbanos são comuns às grandes cidades brasileiras, mesmo considerando as diferenças regionais. Em São Paulo continua predominando a política de privilégio ao transporte individual por automóvel. As políticas de mobilidade são tímidas e descontinuadas.
    Grande abraço.
    Adhemar

    ResponderExcluir