O
professor arquiteto Oscarito Antunes do Nascimento é um dos pioneiros da arquitetura no Amapá, é amazonense de nascimento, nasceu na
cidade de São Paulo de Olivença no interior do Amazonas, filho de militar,
passou sua infância na região da tríplice fronteira (Brasil, Colômbia e
Peru), região onde localiza-se sua cidade natal, na adolescência mudou-se para
Manaus onde fez seu ensino primário, e posteriormente se mudou para Belém a fim de fazer o ensino ginasial e depois entrou na
Universidade Federal do Pará, onde graduou-se em arquitetura e urbanismo, ainda em Belém deu aula no renomado Colégio Gentil Bitencourt na capital paraense, possuí mestrado em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Amapá, também foi o Primeiro Conselheiro Federal Titular do CAU-AP eleito na primeira eleição do Conselho de Arquitetura e Urbanismo e atualmente ocupa o cargo de conselheiro federal suplente do mesmo.
“Como professor vou ficar até me aposentar, e como arquiteto a gente nunca se aposenta”
Quando ou por que o senhor optou pela arquitetura?
Na verdade, foi no cursinho, pensei primeiro em fazer engenharia eletrônica que em Belém já não era uma novidade, mas aqui sim, mas aí depois optei durante o cursinho para arquitetura, mas de fato minha vocação sempre foi a arquitetura.
Na sua opinião, qual é a importância da arquitetura para a sociedade?
A
arquitetura é uma ciência muito importante para a sociedade pois envolve
urbanismo, as questões sociológicas, proporciona qualidade de vida, e enfim,
está diretamente envolvida com as necessidades do ser humano.
Na sua opinião o que é essencial para realizar um bom projeto?
Primeiramente
atender os anseios do cliente, cada cliente ou usuário é diferente, cada
projeto é único, e as vezes um cliente lhe contrata, mas você deve pensar no
usuário, é o caso das obras públicas, onde é o estado que lhe contrata, mas
você deve pensar nos usuários que utilizarão aquele prédio, como uma escola por
exemplo, mas o fundamental é o arquiteto buscar atender os anseios do cliente. Mas
na discussão é importante conhecer bem, os costumes da família, e adequar o
projeto ao cliente, a estética tem que ter, mas o principal é a funcionalidade
da residência, como dizia Le Corbusier “a casa é uma máquina de viver”, na
cidade é a mesma coisa.
O senhor é um dos arquitetos mais conhecidos e procurados em Macapá. O que o
senhor identifica como determinante para receber muitos projetos?
Eu
acredito que isso se deve ao pioneirismo, quando eu cheguei em Macapá não se
falava em arquitetura, era um fator digamos assim ainda desconhecido na cidade,
então aos poucos, a gente foi implantando uma batalha de implantação de
projetos institucionais, e eu acho que fui um dos primeiros arquitetos que
entrar na linha de edifícios institucionais, para o governo, não se tinha ainda
uma clientela particular ainda, e meu nome começou a aparecer, ai claro depois
vieram outros arquitetos e a partir do curso de arquitetura isso é claro já
ampliou o leque, mas isso se deve principalmente ao pioneirismo.
Na sua opinião os arquitetos locais deveriam explorar melhor a regionalidade,
com projetos mais adequados ao nosso clima?
Isso
aí é uma questão fundamental, a arquitetura regional, mas nem sempre esse
regionalismo é muito bem-vindo, mas não podemos nos esquecer das técnicas
contemporâneas, o que eu chamo de um regionalismo critico, adotando conceitos,
que na arquitetura sempre deve ser observada as relações climáticas, os
materiais regionais, mas nunca devemos nos alienar das técnicas modernas, é uma
questão de fazer uma simbiose entre as técnicas contemporâneas aliado a uma
ecologia amazônica, tem que aliar as duas coisas, e a questão da
sustentabilidade que hoje está em alta.
O senhor se considera realizado profissionalmente?
Agora
eu estou querendo fazer um fechamento da minha atividade a nível regional, na
área de urbanismo, por que eu trabalhei muito com o prédio, o projeto, e é
claro que sempre se leva em consideração o entorno, mas agora eu tô querendo me
preocupar com a questão do urbanismo, a questão do saneamento da Amazônia, as
populações ribeirinhas, a questão da qualidade de vida na Amazônia que tem um
potencial muito grande que não é aproveitado, muitas cidades do interior, aqui
mesmo do Amapá, que são dezesseis municípios, todos com um potencial turístico muito grande, que não é aproveitado, eu tenho um fascínio muito
grande pelas comunidades ribeirinhas, e também no caso do Amapá os municípios
ao longo da BR (156).
Se pudesse dar um conselho aos novos arquitetos e estudantes de arquitetura,
mais especificamente do curso de arquitetura da Unifap, qual seria?
Bom,
eu acredito que nós estamos na fase da pesquisa e da inovação, ter ideias
inovadoras dentro do projeto, ter conhecimento das técnicas modernas, pensar na
eficiência do prédio, aliar o moderno com o regional, mas principalmente fazer
pesquisa, se informar das novas tecnologias, por que hoje não podemos fugir
delas.
Quais dos projetos que o senhor já realizou que na sua opinião foi o mais
desafiador?
Pela
magnitude, sem dúvida foi o Estádio Zerão, que nós fizemos com parceria com
mais dois colegas: Shikarito e Homobono, ele (Zerão) não foi todo construído,
apenas um terço do que foi projetado foi executado, mas tem outros na área
educacional que eu gosto muito, vários protótipos escolares, tanto de primeira
a oitava (Série) como de formação, o centro de processamento de dados, o prédio da prefeitura
e da praça da bandeira, na Praça da Bandeira projetei aquelas marquises, aquele
parlatório e pira olímpica que até hoje se mantém lá, é um projeto que gosto
bastante.
Sobre
a Prefeitura, me fale um pouco sobre o projeto, quem era o prefeito á época e
como era o contexto da prefeitura naquele tempo.
Aquilo
era um caixão, eu e o Brito, nós éramos funcionários da prefeitura, então nos
encarregaram do projeto de reforma, então colocamos aqueles pilares, com telhas
Brasilit que era muito usado na época e de modo que demos uma outra roupagem,
que melhorou muito em relação ao que era antes, o prefeito na época era Cleito
Figueiredo, o prefeito mais empreendedor que Macapá já teve até hoje, formou
uma equipe técnica de qualidade e se cercou de bons profissionais, de modo que
esses projetos foram todos feitos na época dele, naquela época a prefeitura
tinha mais verba, ainda era território federal e estávamos ligados ao
ministério do interior, naquela época prefeito e governador eram nomeados, não
havia eleição, nós fizemos muitos projetos como técnicos dentro da prefeitura, ainda neste tempo, houve um grande incêndio no centro comercial de Macapá, na
região da Rua Cândido Mendes que destruiu muitas lojas, então eu e outro colega
a pedido do prefeito tivemos que rapidamente projetar a reconstrução daquela
região ali.
Existe algum projeto que o senhor realizou que se fosse hoje, faria de modo
diferente?
Os
projetos são feitos de acordo com sua época, a arquitetura é muito dinâmica, a
cidade oferece essas mudanças, cada projeto tem seu tempo, a realidade da época
era diferente então todo projeto se fosse feito hoje seria diferente, a arquitetura é muito relacionada a cidade.
Fale-me um pouco sobre o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo). Dizem que o senhor tem um dos
primeiros registros no número do Cau-AP.
No
Cau eu fui Conselheiro Federal nos primeiros três anos, depois do nosso
desmembramento do Crea, agora estou como suplente, Cau e Crea foi uma luta de
quase quarenta anos, foi uma luta de várias entidades que se uniram pra fazer
essa separação, o Crea é uma coisa gigantesca com mais de quarenta categorias,
foi uma saída um pouco traumática, o Crea perdeu receita, mas nós tivemos uma
saída muito honrosa, ainda tem a briga do sombreamento (competências de
engenheiros e arquitetos que se entrelaçam), mas os arquitetos podem fazer
cálculos estruturais e diversas outras coisas com muita competência, inclusive aqui
em Macapá existem várias empresa que chamam de “engenheiro responsável” os arquitetos que são
os responsáveis técnicos da obra. Quanto ao número do cau o Niemeyer é o 001,
quando saímos do Crea mudou o sistema de registros e ele foi feito a nível
nacional, são mais de cem mil arquitetos hoje e eu devo ser lá por volta do
número mil, mas o cau é um registro nacional.
Entrevista concedida em 27/08/2015
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