Quando
falamos de orla em Macapá, a primeira imagem que em geral nos vem à mente é da
orla do bairro Santa Inês, zona sul da capital, entretanto esta é uma pequena
parte da orla, ou melhor, das várias orlas que temos. Orla é toda faixa de
terra que margeia um grande corpo d´agua, orla urbana, por convenção, é toda
faixa de orla dentro do perímetro urbano delimitado pelo plano diretor
municipal. Porém não basta apenas ter orla dentro do perímetro urbano, é
necessário também analisar se esta orla está urbanizada, se é de livre acesso
público, e por fim seus usos e atividades, e em análise mais profunda, se ela
conecta a cidade ao rio, ou se ela segrega a cidade do cotidiano ribeirinho.
Pois
bem, em Macapá temos o privilégio de contar com a maior orla urbana e
urbanizada de livre acesso público da região norte, são 6,2
quilômetros de orla, do Araxá ao Jandiá, e que vai
ganhar mais um quilômetro quando o trecho do Aturiá estiver concluído, estendendo-a até a avenida equatorial, por onde passa a linha do equador, entretanto apenas
uma pequena parte dessa orla, como a do Santa Inês de 3 quilômetros , é
movimentada e atrai boa parte das atenções do poder público e do empresariado
local. As demais contam com o esquecimento ou simplesmente são ignoradas. A
seguir um resumo dos principais trechos de orla urbana de Macapá e suas
características:
Orla
do Santa Inês
Orla do Santa Inês em 2019, durante a colocação no novo posteamento feito pela prefeitura Fonte: Blog Skyscrapercity |
Como
dito antes, é a mais movimentada da cidade, referência local quando se fala em
orla, faz parte do cotidiano de grande parte da população macapaense, atraí
mais investimentos públicos e privados, é de relativo fácil acesso,
principalmente para quem tem veículo próprio, e mais restritiva para quem
depende de transporte público, uma vez que, por ela não passa nenhuma linha de
ônibus. É predominantemente comercial e de lazer, e é mais frequentada no fim
de tarde até a madrugada, dentre suas atividades estão algumas que conectam
Macapá a vida ribeirinha, como na rampa do Santa Inês por onde chega açaí,
peixe e farinha das ilhas.
Orla
do Perpétuo Socorro
Trecho com erosão da orla do Perpétuo Socorro Fonte: G1 AP, 2018 |
É um
trecho tão belo quanto mau tratado de 2 quilômetros da orla de Macapá, começa
no movimentado porto e feira do Igarapé das mulheres, responsável por grande
parte do abastecimento de pescado da capital, e termina no porto do canal do
Jandiá, aonde chega grande parte da madeira usada nas movelarias da cidade. É predominantemente
residencial, usado principalmente no fim de tarde, tem sofrido vários efeitos
da erosão em seu muro de arrimo, e tornou-se referência de abandono e
periculosidade. Um dos problemas desse trecho é seu relativo isolamento e
difícil acesso, exceto para os moradores dos bairros Perpétuo Socorro e Cidade
Nova, esta orla não faz parte do cotidiano da maioria dos macapaenses, não
é rota de passagem, e nem se conecta diretamente com o centro ou com o Canal do
Jandiá, menos ainda com o restante da orla, há quem diga que esta é a razão de
sua atual condição.
Orla
Interior
Ressaca da Lagoa dos índios Fonte: Portal Gov. AP |
Trechos de orla dos bairros margeados pela Lagoa dos índios Autoria própria |
Costumamos
imaginar orla como sendo apenas aquelas que margeiam um rio ou mar, ou como no
caso macapaense o majestoso “rio-mar” Amazonas, entretanto as áreas de
ressacas, regiões alagadas que circundam o perímetro urbano de Macapá, são um
imenso bolsão de água com uma biodiversidade e paisagem riquíssimas, que talvez
por conta da sua banalidade, pelo menos para quem vive o cotidiano macapaense,
acaba passando despercebida. Porém nesta região se encontra a maior orla urbana, no interior do perímetro urbano de Macapá, incríveis 35 quilômetros, se contarmos apenas os bairros que são
margeados somente pela Ressaca Lagoa dos índios. É uma orla praticamente
invisível e de longe a mais problemática e que evidencia o maior problema
social de Macapá, a ausência de uma política habitacional, que fez com que esta
orla fosse em boa parte ocupada para fins de moradia por milhares de famílias
carentes que moram em palafitas, mas não somente, bairros e condomínios de alto
padrão também margeiam e ocupam trechos de ressacas, assim como distribuidoras,
clubes e faculdades.
Em vermelho: Limite urbano municipal segundo plano diretor
Em Laranja: Os 28 quilômetros de orla urbana
Em verde: Os 6,2 quilômetros de orla urbana urbanizada
Imagem: Google Earth | Adaptação: Autoria própria
|
Outros
trechos de orlas também merecem ser mencionados e citados, são o do Parque do
Forte até a Beira Rio, fortemente usado para lazer e turismo, a orla da
Fazendinha e Vale verde, que dão um texto á parte, a orla do Aturiá e a orla do
lado macapaense do Igarapé da Fortaleza no limite com o município de Santana,
que serve de porto, entreposto comercial e moradia. Como vimos Macapá é uma
cidade entre orlas, várias orlas, com os mais variados usos, características e peculiaridades,
que em grande parte não servem apenas para fins meramente contemplativos e de
lazer, como também ainda contribuem em maior ou menor grau para conectar Macapá
com o rio, com sua origem ribeirinha e consequentemente amazônica.
Leia também:
Projeto
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Áreas de
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G1 AP –
Buracos causados por erosão na orla de Macapá, oferece riscos aos pedestres
Diário do Amapá – Orla do Perpétuo
Socorro está orçada em 25 milhões
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