domingo, 15 de dezembro de 2019

MACAPÁ E SUAS ORLAS URBANAS




Quando falamos de orla em Macapá, a primeira imagem que em geral nos vem à mente é da orla do bairro Santa Inês, zona sul da capital, entretanto esta é uma pequena parte da orla, ou melhor, das várias orlas que temos. Orla é toda faixa de terra que margeia um grande corpo d´agua, orla urbana, por convenção, é toda faixa de orla dentro do perímetro urbano delimitado pelo plano diretor municipal. Porém não basta apenas ter orla dentro do perímetro urbano, é necessário também analisar se esta orla está urbanizada, se é de livre acesso público, e por fim seus usos e atividades, e em análise mais profunda, se ela conecta a cidade ao rio, ou se ela segrega a cidade do cotidiano ribeirinho. 

Ranking das orlas urbanas urbanizadas de algumas cidades e capitais da região norte
(Obs: Foram levadas em conta apenas trechos de orla da sede do município)
Fonte: Google Earth
Gráfico: Autoria Própria
Pois bem, em Macapá temos o privilégio de contar com a maior orla urbana e urbanizada de livre acesso público da região norte, são 6,2 quilômetros de orla, do Araxá ao Jandiá, e que vai ganhar mais um quilômetro quando o trecho do Aturiá estiver concluído, estendendo-a até a avenida equatorial, por onde passa a linha do equador, entretanto apenas uma pequena parte dessa orla, como a do Santa Inês de 3 quilômetros, é movimentada e atrai boa parte das atenções do poder público e do empresariado local. As demais contam com o esquecimento ou simplesmente são ignoradas. A seguir um resumo dos principais trechos de orla urbana de Macapá e suas características: 

Orla do Santa Inês
Orla do Santa Inês em 2019,
durante a colocação no novo posteamento feito pela prefeitura
Fonte: Blog Skyscrapercity 

Como dito antes, é a mais movimentada da cidade, referência local quando se fala em orla, faz parte do cotidiano de grande parte da população macapaense, atraí mais investimentos públicos e privados, é de relativo fácil acesso, principalmente para quem tem veículo próprio, e mais restritiva para quem depende de transporte público, uma vez que, por ela não passa nenhuma linha de ônibus. É predominantemente comercial e de lazer, e é mais frequentada no fim de tarde até a madrugada, dentre suas atividades estão algumas que conectam Macapá a vida ribeirinha, como na rampa do Santa Inês por onde chega açaí, peixe e farinha das ilhas.

Orla do Perpétuo Socorro
Trecho com erosão da orla do Perpétuo Socorro
Fonte: G1 AP, 2018

É um trecho tão belo quanto mau tratado de 2 quilômetros da orla de Macapá, começa no movimentado porto e feira do Igarapé das mulheres, responsável por grande parte do abastecimento de pescado da capital, e termina no porto do canal do Jandiá, aonde chega grande parte da madeira usada nas movelarias da cidade. É predominantemente residencial, usado principalmente no fim de tarde, tem sofrido vários efeitos da erosão em seu muro de arrimo, e tornou-se referência de abandono e periculosidade. Um dos problemas desse trecho é seu relativo isolamento e difícil acesso, exceto para os moradores dos bairros Perpétuo Socorro e Cidade Nova, esta orla não faz parte do cotidiano da maioria dos macapaenses, não é rota de passagem, e nem se conecta diretamente com o centro ou com o Canal do Jandiá, menos ainda com o restante da orla, há quem diga que esta é a razão de sua atual condição. 

Orla Interior
Ressaca da Lagoa dos índios
Fonte: Portal Gov. AP
Trechos de orla dos bairros margeados pela
Lagoa dos índios
Autoria própria
Costumamos imaginar orla como sendo apenas aquelas que margeiam um rio ou mar, ou como no caso macapaense o majestoso “rio-mar” Amazonas, entretanto as áreas de ressacas, regiões alagadas que circundam o perímetro urbano de Macapá, são um imenso bolsão de água com uma biodiversidade e paisagem riquíssimas, que talvez por conta da sua banalidade, pelo menos para quem vive o cotidiano macapaense, acaba passando despercebida. Porém nesta região se encontra a maior orla urbana, no interior do perímetro urbano de Macapá, incríveis 35 quilômetros, se contarmos apenas os bairros que são margeados somente pela Ressaca Lagoa dos índios. É uma orla praticamente invisível e de longe a mais problemática e que evidencia o maior problema social de Macapá, a ausência de uma política habitacional, que fez com que esta orla fosse em boa parte ocupada para fins de moradia por milhares de famílias carentes que moram em palafitas, mas não somente, bairros e condomínios de alto padrão também margeiam e ocupam trechos de ressacas, assim como distribuidoras, clubes e faculdades.


Em vermelho: Limite urbano municipal segundo plano diretor
Em Laranja: Os 28 quilômetros de orla urbana
Em verde: Os 6,2 quilômetros de orla urbana urbanizada
Imagem: Google Earth | Adaptação: Autoria própria

Outros trechos de orlas também merecem ser mencionados e citados, são o do Parque do Forte até a Beira Rio, fortemente usado para lazer e turismo, a orla da Fazendinha e Vale verde, que dão um texto á parte, a orla do Aturiá e a orla do lado macapaense do Igarapé da Fortaleza no limite com o município de Santana, que serve de porto, entreposto comercial e moradia. Como vimos Macapá é uma cidade entre orlas, várias orlas, com os mais variados usos, características e peculiaridades, que em grande parte não servem apenas para fins meramente contemplativos e de lazer, como também ainda contribuem em maior ou menor grau para conectar Macapá com o rio, com sua origem ribeirinha e consequentemente amazônica.

Lakes Flórida (EUA)
Orlas de lagos e represas tornaram-se 
objeto de valorização imobiliária e uso recreativo
Lakes Flórida (EUA)
Exemplo de usos e ocupação
de orlas interiores 




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G1 AP – Buracos causados por erosão na orla de Macapá, oferece riscos aos pedestres
Diário do Amapá – Orla do Perpétuo Socorro está orçada em 25 milhões

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