As
origens da Avenida FAB (Força Aérea Brasileira) remontam aos tempos em que o
local era o único campo de pouso de aeronaves em Macapá, que sofreu um surto de construções
públicas “modernas”, nos anos 70 e 80, afim de transforma-la em vitrine de modernidade durante o período territorial, foi passarela do samba até a construção do
sambódromo, e até hoje é palco dos principais protestos sociais. Pois bem, essas histórias são bem conhecidas pelos moradores, pesquisadores e testemunhas oculares destas transformações. Entretanto, o foco deste texto é outro, é analisar as relações e a importância desta via para o contexto urbano da cidade.
A FAB é uma avenida icônica da cidade, por ela passam simplesmente todas
as linhas de ônibus, nela estão localizadas quase todas as secretarias de
estado, as escolas públicas mais tradicionais e as sedes dos três poderes. É por assim
dizer a nossa “esplanada dos ministérios tucujú”, e um dos lugares que melhor sintetiza isso, é o complexo administrativo, localizado na Avenida FAB entre a rua Leopoldo Machado e rua Jovino Dinoá, que abriga a maioria das secretarias da
administração estadual, é uma região com dinâmica e infraestruturas já
consolidadas, e que está localizada no epicentro da mancha urbana, equidistante
entre os extremos das zonas sul, norte e oeste da cidade. Contudo, nos últimos anos,
tem-se notado uma transferência gradual de muitos órgãos do eixo FAB para a
nova Rodovia Norte-sul, sem nenhum planejamento urbano e com poucas melhorias para os bairros do entorno,
já se fala até na construção de outro complexo administrativo na região, algo que
já tem sido feito em outras capitais, a primeira vista pode ser uma ideia
interessante, eu mesmo já fui favorável, entretanto temos que analisar todos os
aspectos que envolvem uma proposta como esta.
Vários
estados brasileiros já construíram novos complexos administrativos, as chamadas
“cidades administrativas”, o caso mais emblemático é a de Minas Gerais, construída
durante a gestão do ex-governador Aécio Neves, e um dos últimos projetos de
Oscar Niemeyer. A ideia de centralizar, simplificar e otimizar toda a
administração pública estadual em um só local é ótima, porém leva-la para fora
da região central da cidade, onde todo sistema de transporte coletivo e mesmo
de transporte individual já está consolidado não me parece ser uma boa ideia, o
impacto maior seria sentido em curto ou longo prazo, em maior ou menor grau,
pela rede de comércio formal e informal dos mais variados serviços que passaram
a orbitar em torno deste centro consolidado e o fluxo de funcionários públicos
e terceirizados que circulam pela região, o bem estar dos usuários deve ser o
foco central de qualquer bom projeto, não é o que tem se notado nestes
centros administrativos país á fora.
Cidade Administrativa de Minas Gerais Foto: BHAZ |
No caso da Cidade administrativa de Minas, construída há mais de 30 km de distância do centro, custou quase 2 bilhões de reais, e tem um custo mensal de manutenção estimado em 440 mil reais, além de está envolvida em suspeitas de fraudes e superfaturamento, também tem cifras assustadoras quando consideramos os 12 .000 m² do Palácio Tiradentes (um dos prédios do complexo), e seus ínfimos 160 funcionários. Para suprir a falta de comércio e serviços no entorno, construiu-se um shopping, que como podemos imaginar tem preços bem mais elevados e uma quantidade de serviços mais limitada do que os disponíveis no centro da cidade, reclamações dos funcionários ocorrem pelos mais variados motivos, dentre os principais estão à distância, o isolamento e o preço das refeições. A julgar pelo histórico de obras públicas e os projetos executados pelo governo do Amapá, ninguém garante que algo semelhante não ocorreria por aqui, com um agravante, diferente de Belo Horizonte com sua economia dinâmica e diversificada, Macapá é uma cidade com uma economia essencialmente baseada no funcionalismo público.
Qual
seria a solução ideal então?
Imagem do projeto vencedor do concurso de projeto para o novo complexo administrativo do Maranhão - Concurso de Projeto.org |
O
governo do Amapá dispõe de uma grande quantidade de áreas no eixo FAB, a
Secretaria de Educação (SEED), por exemplo, ocupa 2/3 de uma quadra (10.500 m²),
tem ainda a atual quadra onde está o complexo administrativo (14.700 m²), a área
do antigo Macapá Clube (3.600 m²) que pode ser comprada, e a abandonada casa do governador (7.900 m²).
A solução, a meu ver, seria a verticalização, através de projetos bem
elaborados, e nada melhor do que a realização de concursos de projetos de arquitetura, para a concepção projetos inteligentes e eficientes, que ao mesmo tempo que incluam novos edifícios, removam outros, também mantenham edificações de valor histórico e arquitetônico, tal como o atual prédio da SEINF (Secretaria de Infraestrutura), projetado por Vilanova Artigas nos anos 70, o
núcleo da Casa do Governador dos anos 40 erguido por Janary, sem esquecer de preservar algum dos atuais
blocos administrativos construídos nos anos 80 para manter parte do patrimônio
moderno como lembrança, qualidades de um bom projeto, que manteria a economia e as
dinâmicas econômicas e sociais já consolidadas e estabelecidas, evitando o problema do esvaziamento e favelização da região
central da cidade, já experimentado em outras grandes cidades, com as vantagens que a otimização da administração pública
centralizada em um só local poderia proporcionar, ainda economizando aos cofres públicos o dinheiro que hoje está indo para o aluguel de prédios particulares inadequados que abrigam diversos órgãos estaduais.
Prédio da SEINF - Acervo Pessoal |
Casa do Governador - Foto: G1/Globo |
Tipologia das Secretarias do Bloco Administrativo Construídas nos anos 80 - Foto: GEA/SECOM |
Leia também:
Primeiro
lugar do concurso de projeto para o novo Centro Administrativo do Maranhão: https://concursosdeprojeto.org/2013/07/16/primeiro-lugar-concurso-para-o-centro-administrativo-do-maranhao/
Cidade
Administrativa Carece de Estrutura dizem servidores: https://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/cidade-administrativa-carece-de-estrutura-dizem-servidores-1.363309
Aécio
Neves deu prejuízo milionário a Minas Gerais com a construção da Cidade
Administrativa: http://www.ptmg.org.br/aecio-neves-deu-prejuizo-milionario-a-minas-gerais-com-a-construcao-da-cidade-administrativa/#.XKpsf1VKjIU
Oi Harife! Ótimo texto e ideias. Mas fico pensando, será que a verticalização, apesar de feita de forma inteligente, nesse lugar não seria o mais adequado? Pois o Esse eixo recebe forte e frequente ventilação das ondas do rio em frente a cidade, será que não teria potencial de criar ilha de calor mais ao centro da cidade também? Que você pensa?
ResponderExcluirObrigado pela pergunta. A resposta é: Depende. Existe uma série de fatores que colaboram pra formação de ilhas de calor. A quantidade de edifícios, proximidade deles,a altura, o sentido em que estes edifícios estão construídos, a direção dos ventos ou mesmo a arquitetura destes edifícios e o desenho urbano da cidade. Neste caso em específico defendo uma verticalização mediana, com edifícios escritórios de no máximo 5 ou 7 pavimentos sob pilotis, a depender de estudos para ser determinado este quantitativo, como o vento dominante e a trajetória do sol em Macapá se dá no sentido leste - oeste, defendo que estas edificações também acompanhem o mesmo sentido, que garantiria uma boa fluidez do vento, e pouca incidência de sol no interior da edificação. Felizmente as nossas avenidas no bairro central tem uma boa largura e estão acompanhando a direção dos ventos (leste - oeste), mas o plano diretor é uma ferramenta primordial para impedir a formação de paredões de prédios e ilhas de calor no futuro, ele já impõe algumas limitações, falta aperfeiçoa-lo para impedir esse problema num futuro distante.
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