Engana-se quem pensa que retornaremos ao mesmo mundo de antes da pandemia, para a professora Lilia Schwarcz, o ano de 2020 marca definitivamente o fim do século XX. Um mundo de consumismo para uns e de escassez para outros, antes super conectado, globalizado, de crescimento ilimitado a qualquer preço, com espetáculos que reuniam milhares de expectadores, e com um fluxo intenso de pessoas circulando nas cidades e no mundo, jamais voltará a ser como antes, compras online, trabalho em casa, educação a distância e maior preocupação com a saúde pública e o meio ambiente deverão ser mais fortes a partir de agora, tendências que foram aceleradas pela crise provocada pelo covid19.
A pandemia revelou também brutais desigualdades sociais no Brasil, que tendem a se aprofundarem, neste que já é um dos países mais desiguais do planeta, e que revelou também uma parcela da elite e classe média totalmente insensíveis a vida humana, colocando o lucro acima de qualquer coisa. A falta de leitos de UTI com respiradores, mostrou apenas a ponta de um imenso iceberg que se soma a ausência de água corrente, saneamento básico, sabão e até comida nas inúmeras favelas e bolsões de pobreza país a dentro. Um Brasil que se desindustrializou, e assistiu ao crescimento do desemprego, da informalidade e do subemprego nos últimos anos, agora sente o peso da aprovação da PEC do Teto de gastos que congelou os investimentos em saúde, educação e ciência por 20 anos, e da reforma trabalhista que prometeu 5 milhões de novos empregos, e entregou até agora, mais de 2 milhões de novos desempregados, que são obrigados a batalhar para sobreviver um dia de cada vez.
Palafitas em área de ressaca de Macapá (AP) Foto: Jurandir Lima |
Conjunto Mucajá (Macapá-AP) Foto: Google Earth, 2012 |
Com o quadro social deteriorado dos últimos anos e a histórica indiferença dos governos em temas como saúde pública, saneamento, moradia ou planejamento urbano, tornou as cidades brasileiras, em especial as capitais e grandes cidades, um caldeirão mais que perfeito para a propagação do vírus. A ideia de aglomerar grandes populações em espaços limitados, com grande densidade como favelas ou mesmo complexos habitacionais, deverá ser repensada no futuro, assim como a ideia de grandes deslocamentos diários, seja em transporte público ou particular, o custo econômico na renda dos mais pobres, e a poluição causada por essa quantidade de veículos circulando a combustíveis fósseis é altíssima também para o meio ambiente, e para a qualidade de vida nas cidades. Ou se muda a forma como pensamos e construímos nossas cidades, ou tragédias como estas continuarão se repetindo, em espaços de tempo cada vez mais curtos, visto que a população mundial só aumenta, e as cidades cada vez mais se adensam em todo o planeta.
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